Por: diariodonordeste.globo.com
A segunda semana do Palco Giratório em Fortaleza começa com folclore e literatura de cordel: o grupo Imbua- ça, de Sergipe, faz sua passagem com as cores, os cantos e as danças nordestinas
No espetáculo "O mundo tá virado", o figurino e os adereços são destaque. Os elementos ajudam a compor as danças e as encenações do teatro de rua tradicionalmente nordestino do grupo
O grupo se apresentou neste fim de semana em Feira de Santana, na Bahia, e já no domingo aportou em Fortaleza. Viajando o Brasil através do projeto Palco Giratório 2011, os sergipanos do Imbuaça trazem para o Sesc cearense toda a molecagem do teatro, da dança e da dramaturgia popular nordestina. O nome do grupo é uma homenagem ao artista popular Mané Imbuaça, um embolador sergipano.
"A gente começou a partir do Festival de Arte de São Cristovão, em Sergipe, no ano de 77. Tinha um grupo, o Teatro Livre da Bahia, que estava apresentando lá um teatro de rua com cordel, quando a gente viu quis copiar a ideia. Mas aliamos a isso a utilização das danças dramáticas", comenta o ator Lindolfo Amaral. Foi desse modo que a literatura de cordel e as danças tradicionais se tornaram a base fundamental da companhia.
Em Fortaleza, o grupo encena "O mundo tá virado" e "O teatro chamado cordel", hoje e amanhã, respectivamente. O primeiro espetáculo é fruto da união de três histórias curtas, que, com humor, exploram duas características do ser humano: a ingenuidade e o seu antônimo, a esperteza.
Já em "O teatro chamado cordel", é feita uma seleção de textos da literatura popular: "O Matuto com o balaio de maxixi", de José Pacheco; "A Moça que bateu e virou cachorra", de Rodolfo Coelho Cavalcante e "O Malandro e Graxeira no chumbrego da orgia". A interpretação dos causos são intercaladas por danças e músicas folclóricas.
Circulação
"Nossa intenção, nesses mais de 30 anos, sempre foi alimentar nossa atuação teatral a partir da literatura popular. Se você trabalha na rua, o desafio é procurar elementos que têm mais relação com o público, porque a rua é democrática, é o espaço de todas as manifestações, todas as classes. Então como ter certeza dos temas com os quais o povo se identifica?", comenta Lindolfo. Sobre isso, a itinerância do grupo, fazendo turnês pelos estados e participando de circulações como o Palco Giratório, ajuda a compor sua estética. "É muito interessante quando viajamos para a região Sul, por exemplo, e percebemos as pessoas tentando entender de onde vêm as referências de nossas danças e cantos tradicionais. É diferente da cultura delas, mas é Brasil", reforça o ator.
O grupo já esteve no Ceará nos anos de 2002 e 2004, durante o Festival de Teatro de Guaramiranga. Segundo Lindolfo, a companhia tem uma forte ligação com o Ceará, que capta e se diverte com a valorização do popular empregada pelo grupo.
Preparação
Um dos pilares do Imbuaça é, sem dúvida, a formação. O grupo investe em montagens de oficinas em Sergipe e, por elas, já passaram mais de cem alunos. Alguns formaram novos grupos, como o "Alegria, alegria", de Natal, no Rio Grande do Norte; e "Quem tem boca é pra gritar", que hoje atua em João Pessoa, na Paraíba. Para a produção dos espetáculos, além dos estudos teóricos, são feitas aulas de canto, dança e de música.
Fique por dentro
Os velhos folhetos
As raízes da literatura de cordel brasileira estão principalmente na Espanha, em Portugal e um pouco na França. Apesar de haver outras interpretações, a origem do termo "cordel" mais difundida é a de que veio de Portugal, onde os folhetos eram vendidos em feiras, pendurados em barbantes, chamados cordéis. No Nordeste, o cordel ganhou força. Os temas abordados podem ser universais: desde as lendas europeias até o folclore brasileiro. Do folheto educativo, que aborda saúde, até os mais sátiros e humorísticos.
MAIS INFORMAÇÕES
"O mundo tá virado" Hoje, às 18 horas, no Sesc Fortaleza
(R. Clarindo de Queiroz, 1740, Centro).
"O teatro chamado cordel", amanhã, às 18 horas, no Sesc Fortaleza. Livre. Ingressos: R$ 10 (inteira).
Contato: (85) 3452.9067
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
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