CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



domingo, 30 de janeiro de 2011

Paraíba vai receber R$ 200 mil para projetos de cordel

O Ministério da Cultura (MinC), através do programa Mais Cultura, premiará nesta semana 200 iniciativas ligadas à literatura de cordel em todo o Brasil. Uma lista publicada no Diário Oficial da União em dezembro de 2010 informa a classificação de 27 propostas de gestores culturais da Paraíba. Deste total 16 estão dentro das vagas que serão financiadas pelo MinC.
O edital do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré foi lançado em junho e disponibilizou R$ 3 milhões para investimentos nos projetos selecionados. 688 iniciativas concorreram em todo o país em sete categorias.
Na Paraíba, proponentes de oito municípios foram classificados em seis categorias. João Pessoa vem em primeiro lugar com seis projetos distribuídos dentro das vagas. Em seguida está Campina Grande com quatro. Patos, Santa Luzia, Itaporanga, Picuí, Taperoá e Dona Inês aprovaram um projeto cada.
O projeto aprovado pelo jornalista Manassés de Oliveira, o único da cidade de Picuí, será executado em Campina Grande. Isso eleva o total de propostas da Rainha da Borborema para cinco.
O título da iniciativa do jornalista é “Literatura de cordel e repente: motes para o uni/verso escolar da rede pública de Campina Grande”. De acordo com Oliveira a iniciativa é inéditaporque pretende inaugurar o primeiro laboratório de cantoria do Brasil.
A proposta de Oliveira é instalar numa escola pública de Campina Grande, da rede municipal ou estadual, um laboratório de cantoria. O projeto terá ainda um jornal impresso.
Na metodologia está prevista quatro oficinas ligadas à literatura de cordel. “A ideia é ensinar aos alunos a valorizar e dar continuidade a uma modalidade artística própria do Nordeste brasileiro e que tem Campina Grande como centro de difusão”, explica.
Oliveira ainda quer levar a iniciativa para outras cidades da Paraíba. “Vamos fazer um levantamento bibliográfico que está previsto no nosso cronograma, depois executaremos o projeto em Campina com a verba do MinC. Após essa etapa, já com a experiência do projeto executado na prática, vamos propor ao governo do estado uma extensão das nossas ações em alguns municípios paraibanos”, informou Oliveira.
A ideia do jornalista é compartilhada pelo poeta e pesquisador campinense Bráulio Tavares. No documentário “Poetas do repente”, realizado pela fundação Joaquim Nabuco, Bráulio afirma que “deveria haver no Nordeste escolas, ou cursos, ou oficinas pra que os poetas passassem pra garotos e garotas o beabá da poesia popular: ensinar o que é rima, ensinar o que é métrica, ensinar o que é um verso de dez sílabas e o que é um verso de sete sílabas. Os garotos podem aprender isso. Grande parte dos cantadores aprendeu isso quando eram garotos. Garotos de dez anos de idade, morando no sítio, sem frequentar a escola”.
A divulgação final está prevista para esta semana. O MinC está avaliando os recursos interpostos pelos proponentes que foram classificados fora das vagas do edital. O resultado final depende de publicação no Diário Oficial da União.
Se todos os projetos do estado conseguirem entrar no limite de vagas que serão contempladas após os recursos, a Paraíba terá um acréscimo de R$ 261 mil e elevará o total de recursos para R$ 461 mil.

Fonte: paraiba.com.br
28/01/2011 10h49min

sábado, 29 de janeiro de 2011

Poetas niversitário,


Autor: Patativa do Assaré

Poetas niversitários
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.

Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.

No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.

Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.

Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.

Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.

Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.

Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô.

Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.

Dêste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lêsma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma.

Texto/ Imagem

sábado, 22 de janeiro de 2011

SEU LUNGA, tolerância zero


Autor: Ismael Gaião

Eu vou falar de Seu Lunga
Um cabra muito sincero,
Que não tolera burrice
Nem gosta de lero-lero.
Tem sempre boas maneiras,
Mas se perguntam besteiras,
Sua tolerância é zero!

Ao entrar num restaurante
Logo depois de sentar,
Um garçom lhe perguntou:
O Senhor vai almoçar?
Lunga disse: não Senhor!
Chame o padre, por favor,
Vim aqui me confessar.

Lunga tava na parada
Com Renata perto dele.
Esse ônibus vai pra praia?
Ela perguntou a ele.
Ele, então, disse à mulher:
- Só se a Senhora tiver
Um biquini que dê nele!

Seu Lunga tava pescando
E alguém lhe perguntou:
- Você gosta de pescar?
Ele logo retrucou:
- Como você pode ver,
Eu vim pescar sem querer,
A polícia me obrigou.

Pagando contas no Banco
Lunga viveu um dilema
Pois com um talão nas mãos,
Ouviu de Pedro Jurema:
O Senhor vai usar cheque?
- Ele disse: não, moleque,
Vou escrever um poema.

Em sua sucataria
Alguém tava escolhendo,
- Por quanto o Senhor me dá,
Essa lata com remendo?
Lunga, sem pestanejar,
Disse: não posso lhe dar,
Porque eu estou vendendo.

E ainda muito irritado
A seu freguês respondeu:
Tudo que eu tenho aqui,
Eu vendo porque é meu.
Pois se o Senhor quiser ver,
Coisas sem ser pra vender,
Vá visitar um museu.

Lunga foi comprar sapato
Na loja de Barnabé
E um rapaz bem gentil
Perguntou: é pra seu pé?
Ele disse: não esqueça,
Bote na minha cabeça,
Vou usar como boné.

Lunga carregava leite
Numa garrafa tampada
E um velho lhe perguntou:
Bebe leite, camarada?
Ele disse: bebo não!
Depois derramou no chão.
- Eu vou lavar a calçada.

Seu Lunga tava deitado
Na cama, sem se mexer.
E um amigo idiota
Perguntou, a lhe bater:
- O senhor está dormindo?
Lunga disse: tô fingindo
E treinando pra morrer!

Seu Lunga foi a um banco
Com um cheque pra trocar
Um caixa muito imbecil
Achou de lhe perguntar:
O Senhor quer em dinheiro?
- Não quero não, companheiro,
Quero em bolas de bilhar.

Lunga olhou pro relógio
Na frente de Gabriela,
Quando menos esperava,
Ouviu a pergunta dela:
- Lunga viu que horas são?
Ele disse: não, vi não,
Olhei pra ver a novela!

Seu Lunga comprava esporas
Para correr argolinha
E o vendedor idiota
Fez essa perguntazinha:
- É pra usar no cavalo?
- É não, eu uso no galo,
Monto e dou uma voltinha.

Seu Lunga tava pescando
Quando chegou Viriato
- Perguntando: aqui dá peixe?
Lunga disse: isso é boato!
No rio só dá tatu,
Paca, cutia e teju,
Peixe dá dentro do mato.

Lunga foi se consultar
Com um Doutor que era Crente
Esse logo perguntou:
- O Senhor está doente?
- Lunga disse: não Senhor,
Vim convidar o Doutor,
Para tomar aguardente.

Seu Lunga, com seu cachorro,
Saiu para caminhar
E um besta lhe perguntou:
É seu cão, vai passear?
Lunga sofreu um abalo,
Disse: não, é um cavalo,
Vou levá-lo pra montar.

Lunga trazia da feira,
Já em ponto de tratar,
Uma cabeça de porco,
Quando ouviu alguém falar:
- Vai levando pra comer?
Ele só fez responder:
- Vou levando pra criar!

Lunga foi à eletrônica
Com um som pra consertar
Lá ouviu um idiota
Sem demora, perguntar:
- O seu som está quebrado?
- Tá não, está estressado.
Eu trouxe pra passear.

Seu Lunga foi numa loja
Lá perto de Itaqui
- Tem veneno pra rato?
- Temos o melhor daqui.
Vai levá-lo? Está barato.
- Vou não, vou buscar o rato
Para vim comer aqui!

Seu Lunga tava bebendo,
Quando escutou de Tião:
- Já que faltou energia,
Nós vamos fechar irmão!
Lunga falou: que desgraça!
Eu vim pra tomar cachaça,
Não foi tomar choque não!

Lunga tava em sua loja
Numa preguiça profunda
Quando escutou a pergunta
Vindo de Dona Raimunda:
- O Senhor tem meia-calça?
- Isso em você não realça,
Ou você, tem meia bunda?

Lunga saiu pra pescar,
Quando um amigo encontrou.
Depois de cumprimentá-lo
Seu amigo perguntou:
Lunga vai à pescaria?
Seu Lunga só disse: ia.
Pegou a vara e quebrou.

Jacó estava querendo
Apostar numa milhar
Vendo Lunga numa banca
Disse: agora vou jogar!
E foi gritando dali:
- Lunga, passa bicho aqui?
- Passa sim! Pode passar.

Seu Lunga sentia dor
Procurou Doutor Ramon
Que começou a consulta
Já perguntando em bom tom:
Seu Lunga, qual o seu plano?
Lunga disse: sem engano,
O meu plano é ficar bom!

Lunga tava em seu comércio
Despachando a Zé Lulu
Que depois de escolher
A fava e o feijão guandu.
- Disse: vou levar fubá.
E o arroz como está?
Seu Lunga disse: Tá cru!

Lunga com uma galinha
E a faca pra cortar,
Seu vizinho perguntou:
Oh! Seu Lunga, vai matar?
Com essa pergunta burra,
Disse: não, vou dar uma surra,
Logo depois vou soltar.

Lunga indo a um enterro
Encontrou Zeca Passivo
- Seu Lunga pra onde vai?
Ao enterro de Biu Ivo.
- E Seu Biu Ivo morreu?
- Não, isso é engano seu,
Vão enterrar ele vivo!

Lunga mostrou um relógio
Ao filho de Biu Romão
- Posso botar dentro d’água?
Perguntou o garotão.
Lunga disse sem demora:
- Relógio é pra ver a hora,
Não é sabonete, não!

Lunga fez uma viagem
Pra cidade de Belém
E quando voltou pra casa
Escutou essa de alguém:
- Oh! Seu Lunga, já chegou?
- Eu não, você se enganou,
Chego semana que vem!

Lunga levou uma queda
De cima de seu balcão
- Quer tomar um pouco d’água?
Perguntou o seu irmão.
Lunga logo, respondeu:
Foi só uma queda, meu!
Eu não comi doce não!

Na porta do elevador
Esperando ele chegar
Seu Lunga escutou um besta
Pro seu lado perguntar:
- Vai subir nesse momento?
- Não, que meu apartamento,
Vai descer pra me pegar.

Se encontrar com Seu Lunga
Converse, mas com cuidado,
Pois ele pode ser grosso,
Mesmo sendo educado.
Eu já fiz o meu papel,
Escrevendo este cordel
Pra você ficar ligado!

Imagem

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CORDEL DO ANO NOVO

Autor: Nélson Barbosa

Cada ano que se encerra
Na mente do ser humano
Deixa um recém nascido
Nutrido de muitos planos
Sobre o ano aposentado
O povo entusiasmado
Sauda o novo ano.

É um que vai se entregando
Meia-noite é transição;
É quando outro ano nasce
Em plena comemoração
A luz acaba o escuro
Focalizando o futuro
Alentando a ilusão.

Cada um, sua razão
De chorar ou de sorrir
Por valores que perdeu
Ou não pode conseguir
Outros tanto conseguiram
Mas, todos já aderiram
Ao ano que há de vir.

Cada um sabe de si
Da perda e também da glória
Leva consigo do velho
Uma lista na memória
Munido de substâncias
Desafia as circunstâncias
Para compor sua história.

Se a colheita foi simplória
Ou abundante demais
Cada um que pede a Deus
Nos milagres que ele faz:
Amor, dinheiro e saúde
Sucesso, força e virtude
Vida, união e paz.

Como a caatinga faz
Sobretudo, o juazeiro
Renova sua folhagem
Pra a chegada de janeiro
Que seja assim nosso povo:
Na busca de um mundo novo
Vista um sonho verdadeiro.

E peça muito ligeiro
à sagrada providência
Que dê ao povo, saber
E aos políticos, consciência
Para o povo poder
Exigir e eleger
O combate a violência.

Comece a benevolência
De educar para a vida
Respeitar, compreender
Inventar alternativa
Aprender com a natureza
E trabalhar com destreza
De maneira criativa.

Deletar essa inventiva
De um tal de papai Noel
Este ilude as crianças
Dizendo que vem do céu
Nessa proposta indecente
Os pais é que dão presente
Ele que ganha o troféu.

Basta tirar este véu
Que encobre a imagem pura
Há tantos heróis de fato
Na nossa literatura
Que pintam a realidade
Com sonhos que na verdade
Acontecem com ternura.

Até porque essa usura
Que a propaganda faz
Desconsidera o prestígio
De quem se esforçou demais
Em dimensão regular
Nunca se deve ocultar
O heroísmo dos pais.

No tocante aos ideais
Façamos grande investida
Provando a capacidade
Da nossa força contida
Com feito sério e profundo
Vamos sacudir o mundo
Buscando os sonhos da vida.

Pedir bastante juízo
Ao pai de todo esse povo
Para um pensar coletivo
Sem curral e sem estorvo
Que a vida seja uma escola
Sem precisar de esmola
Na passagem de ano novo.

Fazer o menino novo
Entender isso ligeiro
Que a força do coração
É que traz bom companheiro
E torna tudo contente
Que o valor de um presente
Não se mede com dinheiro.

O poeta mensageiro
Com grande satisfação
Deseja muito sucesso
A toda essa nação
Tenha um feliz ano novo
Sentindo a alma do povo
E muita paz no coração.

Imagem da internet