A literatura de cordel foi introduzida no Brasil pelos portugueses, século XVIII. É poesia popular impressa e divulgada em folhetos ilustrados em xilogravuras. Tem este nome porque em Portugal os folhetos eram expostos em cordões, chamados cordéis.
A publicação gráfica de um folheto de cordel transparece de maneira plena, a sua oralidade. Ele pertence ao universo sem escrita dos cantadores, cujo acervo do saber é a memória, ritmar o universo.
A literatura oral não se restringe à mera tarefa de substituir a produção literária impressa nos ouvidos e nas bocas dos que não costumam ler. A literatura oral é mais velha que a escrita. Uma cultura elitizada tende a classificar o cordel, as expressões e sabedoria do povo como uma literatura ingênua, pitoresca, folclórica.
A literatura de cordel é obra popular transformada em arte. Junto com as migrações, o cordel foi introduzido nas metrópoles do Brasil, sua abordagem não é só regional, são constantes os temas atuais, urbanos, adivinhas, parlendas, estórias, travalínguas, romances e anedotas.
Voz e ritmo que provêm de um ambiente socialmente pobre, o cordel é capaz de atingir a todas as camadas sociais, utilizando a imaginação e criatividade popular.
Principais autores:
Leandro Gomes de Barros: Foi o mais importante autor da literatura de cordel, ainda é o escritor mais lido entre os escritores populares. Publicou aproximadamente mil folhetos e tirou deles mais de dez mil edições, nascido no município de Pombal, Paraíba no ano de 1865 viveu exclusivamente de escrever seus versos populares. Fazia críticas sobre a política, história, religiosos. Denunciava os abusos dos coronéis. Principais obras:
- O punhal e a palmatória
- O cavalo que defecava dinheiro
- O cachorro dos mortos
- História do boi misterioso
- A vida de Pedro Cem
- Os sofrimentos de Alzira
- História de João da Cruz
- A mulher roubada
- Suspiros de um sertanejo
- A seca do Ceará
Leandro Gomes de Barros
Trechos de suas obras:
"Leitores peço desculpas
Se a obra não for de agrado,
Sou um poeta sem força
O tempo tem me estragado,
Escrevo há 18 anos
Tenho razão de estar cansado"
(A mulher roubada)
"Nós temos cinco governos
O primeiro o federal
O segundo o do estado
O terceiro o municipal
O quarto a palmatória
E o quinto o velho punhal"
(O punhal e a palmatória)
"Se vendo o compadre pobre
Naquela vida privada
Foi trabalhar nos engenhos
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo
Que não servia pra nada
Disse o pobre à mulher:
-como havemos de passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vamos inventar um 'quengo'
Pra ver se o querem comprar.
Foi na venda e de lá trouxe
Três moedas de cruzado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No fiofó do cavalo
Foi o dinheiro guardado
Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: -sou rico!
Inda mais que um fazendeiro,
Porque possuo o cavalo
Que só defeca dinheiro..."
(O cavalo que defecava dinheiro)
João Martins de Athayde: Nasceu na Paraíba e criado em Pernambuco. Não frequentou a escola, aprendeu a ler e escrever sozinho, começou a admirar a poesia popular porque ouvia os cantadores da região, sua primeira rima foi composta aos 12 anos. Comprou os direitos autorais de Leandro Gomes de Barros e editou também os poemas deste grande cordelista. Principais obras:
- A bela adormecida no bosque
- A menina perdida
- A moça que foi enterrada viva
- A sorte de uma meretriz
- História de Joãozinho e Mariquinha
- História de José do Egito
- O retirante
- O segredo da princesa
- Romeu e Julieta
- Um passeio no escuro
João Martins de Athayde
Cuíca de Santo Amaro: Baiano, gostava de retratar o quotidiano de sua terra natal, era um tipo de cronista e repórter, qualquer fato interessante, Cuíca não deixava "escapar". Gostava de fazer denúncias contra corruptos e poderosos de sua época e era grande amigo de Jorge Amado. Algumas obras:
- O sururú na federação de desportos terrestres
- O câmbio negro e as misérias na Bahia
- O casamento de Orlando Dias com Cauby Peixoto
- A grande explosão! no barracão de fogos
- O carnaval da bandalheira
- Políticos e demagogos e homens sem palavra
Cuíca de Santo Amaro
Trecho de sua obra:
"Era imenso o galinheiro
Estava mesmo lotado
Tudo de camisa verde
Era um quadro gozado
Porém só tinha um galo
E era o Plínio Salgado
Porém o galinheiro
Muito tempo não durou
Quando foi um belo dia
Getúlio Vargas cismou
Agarrou logo o galinheiro
E o rabo logo cortou.
Nunca disse a ninguém
Que eu era Getulista
Nem também afirmei
Que eu era Queremista
Todos sabem muito bem
Que eu sou propagandista..."
Fonte: elaineruizcederj.blogspot.com
Imagem: girafamania.com.br
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