CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



segunda-feira, 7 de março de 2011

Literatura de cordel

 


           A literatura de cordel foi introduzida no Brasil pelos portugueses, século XVIII. É poesia popular impressa e divulgada em folhetos ilustrados em xilogravuras. Tem este nome porque em Portugal os folhetos eram expostos em cordões, chamados cordéis.
            A publicação gráfica de um folheto de cordel transparece de maneira plena, a sua oralidade. Ele pertence ao universo sem escrita dos cantadores, cujo acervo do saber é a memória, ritmar o universo.
           A literatura oral não se restringe à mera tarefa de substituir a produção literária impressa nos ouvidos e nas bocas dos que não costumam ler. A literatura oral é mais velha que a escrita. Uma cultura elitizada tende a classificar o cordel, as expressões e sabedoria do povo como uma literatura ingênua, pitoresca, folclórica.
A literatura de cordel é obra popular transformada em arte. Junto com as migrações, o cordel foi introduzido nas metrópoles do Brasil, sua abordagem não é só regional, são constantes os temas atuais, urbanos, adivinhas, parlendas, estórias, travalínguas, romances e anedotas.
            Voz e ritmo que provêm de um ambiente socialmente pobre, o cordel é capaz de atingir a todas as camadas sociais, utilizando a imaginação e criatividade popular.
Principais autores:

Leandro Gomes de Barros: Foi o mais importante autor da literatura de cordel, ainda é o escritor mais lido entre os escritores populares. Publicou aproximadamente mil folhetos e tirou deles mais de dez mil edições, nascido no município de Pombal, Paraíba no ano de 1865 viveu exclusivamente de escrever seus versos populares. Fazia críticas sobre a política, história, religiosos. Denunciava os abusos dos coronéis. Principais obras:

  • O punhal e a palmatória
  • O cavalo que defecava dinheiro
  • O cachorro dos mortos
  • História do boi misterioso
  • A vida de Pedro Cem
  • Os sofrimentos de Alzira
  • História de João da Cruz
  • A mulher roubada
  • Suspiros de um sertanejo
  • A seca do Ceará

                               Leandro Gomes de Barros

Trechos de suas obras:
"Leitores peço desculpas
Se a obra não for de agrado,
Sou um poeta sem força
O tempo tem me estragado,
Escrevo há 18 anos
Tenho razão de estar cansado"
                                               (A mulher roubada)
"Nós temos cinco governos
O primeiro o federal
O segundo o do estado
O terceiro o municipal
O quarto a palmatória
E o quinto o velho punhal"
                                               (O punhal e a palmatória)
"Se vendo o compadre pobre
Naquela vida privada
Foi trabalhar nos engenhos
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo
Que não servia pra nada


Disse o pobre à mulher:
-como havemos de passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vamos inventar um 'quengo'
Pra ver se o querem comprar.


Foi na venda e de lá trouxe
Três moedas de cruzado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No fiofó do cavalo
Foi o dinheiro guardado


Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: -sou rico!
Inda mais que um fazendeiro,
Porque possuo o cavalo
Que só defeca dinheiro..."

   (O cavalo que defecava dinheiro)

João Martins de Athayde: Nasceu na Paraíba e criado em Pernambuco. Não frequentou a escola, aprendeu a ler e escrever sozinho, começou a admirar a poesia popular porque ouvia os cantadores da região, sua primeira rima foi composta aos 12 anos. Comprou os direitos autorais de Leandro Gomes de Barros e editou também os poemas deste grande cordelista. Principais obras:

  • A bela adormecida no bosque
  • A menina perdida
  • A moça que foi enterrada viva
  • A sorte de uma meretriz
  • História de Joãozinho e Mariquinha
  • História de José do Egito
  • O retirante
  • O segredo da princesa
  • Romeu e Julieta
  • Um passeio no escuro

João Martins de Athayde

Cuíca de Santo Amaro: Baiano, gostava de retratar o quotidiano de sua terra natal, era um tipo de cronista e repórter, qualquer fato interessante, Cuíca não deixava "escapar". Gostava de fazer denúncias contra corruptos e poderosos de sua época e era grande amigo de Jorge Amado. Algumas obras:

  • O sururú na federação de desportos terrestres
  • O câmbio negro e as misérias na Bahia
  • O casamento de Orlando Dias com Cauby Peixoto
  • A grande explosão! no barracão de fogos
  • O carnaval da bandalheira
  • Políticos e demagogos e homens sem palavra

Cuíca de Santo Amaro

Trecho de sua obra:
"Era imenso o galinheiro
Estava mesmo lotado
Tudo de camisa verde
Era um quadro gozado
Porém só tinha um galo
E era o Plínio Salgado


Porém o galinheiro
Muito tempo não durou
Quando foi um belo dia
Getúlio Vargas cismou
Agarrou logo o galinheiro
E o rabo logo cortou.


Nunca disse a ninguém
Que eu era Getulista
Nem também afirmei
Que eu era Queremista
Todos sabem muito bem
Que eu sou propagandista..."

Fonte: elaineruizcederj.blogspot.com

Imagem: girafamania.com.br

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