CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Xilogravura e cordel

Extraído de www.encontrodeculturas.com.br

Na oficina de xilogravura a artista argentina Julieta Warman mostrou a técnica e exaltou a literatura de cordel, típica do nordeste brasileiro

por Vanessa Martins

o Artista João Pedro Viana esculpindo sua peça de xilogravura Foto: Anne Vilela

A artista argentina Julieta Warmen trabalha com xilogravuras há mais de dez anos, fazendo a sua arte e ministrando cursos e oficinas. Além de mostrar a técnica, Julieta tem como objetivo resgatar a literatura de cordel por meio de versos cantados por grupos brasileiros de cultura tradicional, como as Caixeiras do Divino. “Na Argentina temos uma manifestação cultural muito parecida, as copleras, então trouxe também alguns versos delas para que nós pudéssemos ilustrar”, conta a artista.
Os participantes da oficina receberam versos das Caixeiras  e das copleras argentinas para utilizarem como fonte de inspiração. “O primeiro passo é o desenho, depois podemos passá-lo para a madeira através do carbono, ou copiar diretamente nela”, explica Julieta. Com o desenho pronto chega a hora de esculpir a madeira em negativo, ou seja, retirar a parte que seria o fundo e não o desenho, para que o mesmo fique em alto relevo em relação ao restante da madeira.
Depois de talhar toda a madeira, o molde está pronto e pode ser pintado e passado para outra superfície como um carimbo, papel, plástico, tecido e vários outros. “Nosso objetivo é, no final dos três dias, ter um pequeno livro com os versos e as ilustrações de cada um dos participantes”, conta Julieta, empolgada com as possibilidades do resultado.
Segundo a artista, esse molde pode ser feito de vários materiais: madeira, compensado e até plástico. As ferramentas são pequenas laminas em formas de “U” e “V”, que existem em vários tamanhos, permitindo que os traços sejam mais finos ou mais grossos, deixando o trabalho mais detalhado ou mais rústico.
O artista local João Pedro Viana também trabalha com essa técnica e conta que já tinha pensado em uma oficina assim, junto com a colega Julieta. “Nós já tínhamos pensado em um trabalho como esse antes, fico feliz de ver essa arte sendo difundida dessa forma”, conta João Pedro.
André Caminha, que participou da oficina, conta que já conhecia o que era a xilogravura pela literatura de cordel, mas nunca havia trabalhado com isso antes e, fazendo a oficina, viu que a técnica era muito interessante. “Eu trabalho como professor de história e penso em usar alguma coisa dessa oficina no meu dia a dia, para estimular os alunos a se interessarem pela história do nordeste”, explica André.
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A argentina Julieta Warman conta que em sua cidade natal, La Plata, a xilogravura é bem valorizada, e até bem difundida, mas o mesmo não acontece no restante do país e do mundo. “Lá tem muitos tipos de arte e a xilogravura, mesmo que não seja tão reconhecida, está em crescimento”, conta a artista que se inspira seu trabalho na cultura dos negros brasileiros.
Além do Brasil, vários outros países da América Latina têm uma manifestação parecida com a literatura de cordel, como o Chile e o México. Essa forma tão tradicional de utilizar a xilogravura sempre chamou muita atenção da artista. “Eu acho que a cultura brasileira tem muitas coisas interessantes a serem vistas e a cultura dos negros brasileiros que vivem nos quilombos tem muita semelhança com a dos argentinos do norte, como acontece com caixeiras e as copleras”, explica Julieta.

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