CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ler por prazer no ritmo do cordel: NOVA ESCOLA responde oito perguntas sobre como trabalhar a literatura de cordel na sala de aula

Reproduzido de www.origin.revistaescola.abril.com.br

Arte popular. Foto: Gustavo LourençãoARTE POPULAR Na CEIEF Aracy Nogueira Guimarães, a professora Ana Cristina Adão transformou a literatura de cordel em conteúdo de Língua Portuguesa para sua turma de 4º ano. Os principais objetivos: ampliar o repertório dos estudantes e desenvolver na meninada o comportamento leitor.

Se você nunca pensou em apresentar literatura de cordel aos seus alunos, por considerá-la pobre ou popular demais, saiba que está cometendo um erro de avaliação. Primeiro porque popular não é sinônimo de má qualidade. Depois porque esse gênero literário é riquíssimo tanto na forma como no conteúdo. Tão rico que muitos especialistas costumam considerá-lo uma ferramenta excepcional para desenvolver na garotada o comportamento leitor.
O que faz da poesia de cordel um instrumento capaz de estimular o hábito da leitura são características que costumam encantar as crianças, entre elas a musicalidade das rimas, a temática, que geralmente remete à cultura nordestina, e as metáforas, que abrem caminho para boas discussões. Já que é assim, por que não usar o cordel para ampliar o repertório da turma? NOVA ESCOLA foi ouvir quem entende do assunto para elucidar algumas dúvidas sobre como trabalhar com a leitura desse tipo de texto.

1 Qual é a melhor maneira de ler a poesia de cordel para os alunos em sala de sala?

O ideal é que você prepare a leitura com antecedência para dar o devido destaque ao ritmo e à musicalidade proporcionados pelas rimas. Treine a entonação, lembrando-se sempre de que é recitando de modo expressivo que os cordelistas atraem compradores para os seus folhetos. O professor deve atuar como modelo de leitor, questionando as intenções do autor ao escolher determinadas expressões e ajudando na construção do sentido (leia a sequência didática). Informe-se sobre a história e a estrutura poética. Se contar com os recursos necessários, reproduza gravações de cordel em sala de aula. Assim, os alunos terão referências da relação entre o texto e a oralidade típica do gênero.

2 E os estudantes, como devem fazer a leitura?

Ler em voz alta é bom, já que o cordel está fundamentado na oralidade. "Pedir que os alunos levem cordéis para casa e leiam para seus pais é uma boa maneira de aproximá-los do gênero", diz Hélder Pinheiro, professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

3 Depois de ler, o que discutir com as crianças?

Regionalismos, metáforas e palavras que fogem da grafia-padrão, por exemplo.Fatos históricos e aspectos culturais referentes à narrativa também devem ser abordados. Se você intercalar a leitura de cordéis com a de outros gêneros literários, discuta as diferenças entre eles.

4 De que forma explicar palavras fora do padrão?

Os desvios ortográficos típicos do cordel têm origem na estreita relação do gênero com a linguagem oral. Explique que, nesse contexto, eles não são considerados erros, mas traços da fala coloquial e da cultura popular que refletem o ambiente no qual o cordel foi criado.

5 Como abordar regionalismos e metáforas?

Esses elementos refletem o diálogo do sertanejo com suas crenças e seus dilemas cotidianos. É fundamental, portanto, que você estude os cordéis que serão lidos para ajudar seus alunos a compreendê-los. Preparar um glossário de termos regionais pode ajudar bastante.

6 Quais devem ser os critérios na hora de selecionar os textos que serão lidos?

Algumas poesias de cordel têm linguagem chula ou pornográfica. Outros narram histórias violentas. "Na hora de escolher as que serão lidas em sala de aula, é preciso descartar aquelas que apresentem temática inapropriada", diz a professora Ana Cristina Adão, que trabalha a leitura de cordéis com uma turma de 4º ano na CEIEF Aracy Nogueira Guimarães em Limeira, a 150 quilômetros de São Paulo (leia o quadro acima). Ana sugere que, levando em conta a experiência das crianças, sejam selecionados textos que tratem, por exemplo, de lendas, festas regionais, acontecimentos históricos ou simplesmente fatos cotidianos.

7 Dá para trabalhar o cordel no início da alfabetização?

Sim. "A métrica e a rima despertam a curiosidade das crianças", afirma Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, mestre em Literatura pela Universidade Federal de Pernambuvo (UFPE). Apresentá-las ao gênero por meio de cordéis mais curtos, como os escritos em quadras (estrofes de quatro versos) ou sextilhas (de seis), é a melhor estratégia. Não fragmente o cordel. Durante o processo de alfabetização, é importante que os pequenos compreendam o texto em sua integralidade.

8 Onde encontrar boa literatura do gênero?

No Nordeste, encontram-se folhetos à venda em livrarias e até bancas de jornal. Quem está em outras regiões pode comprá-los pela internet, em sites de instituições como o Centro de Tradições Nordestinas, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel e a Casa de Rui Barbosa ou de editoras como Luzeiro e Queima-Bucha. Outra possibilidade é recorrer a livros como Feira de Versos (vários autores, 136 págs., Ed. Ática, tel. 11/3990-1777, 28,90 reais) e O Menino Lê (André Coelho, 32 págs., Ed. Dimensão, tel. 31/3527-8000, 27 reais).

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