CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



sábado, 30 de abril de 2011

SEIS MESTRES DO IMPROVISO

Fonte: Jornal da Besta Fubana

Manoel Xudu

A arte do passarinho
Nos causa admiração:
Prepara o ninho de feno,
No meio bota algodão
Para os filhotes implumes
Não levarem um arranhão.

* * *

João Siqueira

Mulher ao nascer é um anjo;
Sendo moça, um sol nascente,
Sendo noiva, uma esperança,
Sendo esposa, uma semente,
Sendo mãe, é uma fruteira,
Sendo sogra, é uma serpente!

* * *

Pinto do Monteiro

Há vários dias que ando,
Com o satanás na corcunda:
Pois, hoje, almocei na casa
Duma negra tão imunda,
Que a prensa de espremer queijo
Era as bochechas da bunda.

* * *

José Amâncio

Felício já namorou
No seu tempo de rapaz.
Já amou, já foi amado,
Hoje é que não ama mais.
Tá qual ferro de engomar,
Solta fumaça é por trás!

* * *

Dimas Batista

Ali na cabana de alguns pescadores
Fitando a beleza do mar, do arrebol,
Bonitas morenas queimadas de sol,
Alegres ouviram cantar meus amores.
O vento soprava com leves rumores,
O pinho a gemer, depois a chorar.
Aquelas morenas à luz do luar
Me davam impressão que fossem sereias,
Alegres, risonhas, sentadas nas areias,
Ouvindo meus versos na beira do mar.

* * *

Chico Nunes

Sou natural de Alagoas,
Nasci pra ser cantador,
Francisco Nunes Brasil,
Poeta improvisador.

*

A vileza do destino
Espedaçou o meu futuro,
O meu viver é obscuro
Desde o tempo de menino..
Hoje sou um peregrino,
Não sei o que é riqueza,
Bruxuleia a luz acesa,
Perdi a perseverança…
E o retrato da minha infância
Está na minha pobreza.

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Me meti por tanto atalho
Que não sei mais onde é a entrada
Minha vida tá cortada,
Perdi amparo e agasalho,
Fui como rosa no galho,
Hoje só pétala caída,
Sem perfume, esmaecida,
Levada na tempestade,
Sentindo a dô da saudade
Na sombra negra da vida.

.

Na terra dos marechais,
Sem ter quem me queira bem,
Oh, morte, por que não vens…
Tirar os meus dias finais?
Vivo gemendo meus ais,
Só sei o que é aspereza.
Não apresento nobreza,
Sou igual a uma balança…
E o retrato da minha infância
Está na minha pobreza.

* * *

Imagem: museudapessoa.net

Um comentário:

  1. Esta seleta é verdadeiramente um relicário da inspiração de grandes poetas da cultura nordestina.

    Pedro Paulo Paulino.

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