CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Academia Brasileira de Literatura de Cordel implanta cordeltecas pelo país

Folhetos e livros feitos no Brasil são estudados na Universidade Coimbra

“(...) Vendidos nas feiras livres
Pendurados num cordão
Esses livretos viraram
O jornal da região
Levando conhecimento
Àquela população.”

No trecho do folheto “Beabá do cordel”, o cordelista Moreira Acopiara explica, usando rimas típicas, o que é o gênero literário popular que já existia na época dos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões etc; e que chegou à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do Século 16. Estabelecida no Nordeste, a literatura de cordel veio de Portugal para o Brasil junto com os colonizadores. Populares no país todo, graças também à Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), as rimas brasileiras ganharam o mundo e voltaram, inclusive, para Portugal: elas são estudadas na cadeira Literatura e Cultura Brasileira I do curso de Letras da Universidade de Coimbra. Além de publicar folhetos de diversos autores e livros como o “Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel”, que cita esse texto de Acopiara, a ABLC implanta cordeltecas pelo Brasil e é representada por seu presidente, Gonçalo Ferreira da Silva, em viagens internacionais.

“Minha ida aos Estados Unidos recentemente foi muito importante para a consolidação internacional do nome da academia. Também há material nosso na Universidade de Coimbra. A academia desempenha uma função social extraordinária. Esse projeto de implantação de cordeltecas no Brasil já está chegando a 16 localidades. Esse é um trabalho nunca sequer pensado e imaginado por qualquer cordelista. E não é brincadeira fazer um trabalho desses sem dinheiro nenhum. É só amor e vontade de fazer”, diz Gonçalo Ferreira da Silva.

Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) (Foto: Christina Fuscaldo)Gonçalo Ferreira da Silva, da Academia Brasileira
de Literatura de Cordel  (Foto: Christina Fuscaldo)

Já faz mais de 30 anos que Gonçalo Ferreira da Silva iniciou uma jornada que o levou não só ao aprofundamento na história e na técnica da literatura de cordel, conhecimentos que fizeram dele um especialista. O cordelista, que hoje tem cerca de 250 folhetos e 20 livros publicados, também rimou muito até conseguir tornar a ABLC referência para estudiosos e/ou curiosos sobre o gênero. Com sede em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, a academia começou na Feira de São Cristóvão, feira popular dedicada à cultura e gastronomia nordestina, e contou com o apoio da Federação das Academias de Letras no Brasil para ter sua sede própria.

“Quando comecei a produzir literatura de cordel, a Madrinha Mena se prontificou a montar um tabuleiro na Feira de São Cristóvão, que curiosamente se tornou o embrião da academia. Vinham pesquisadores de fora e eu ia a Brasília participar de seminários, palestras, festivais. Foram dez anos assim, de 1978 a 1988. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel foi fundada em 7 de setembro de 1988 com ajuda da Feredação das Academias de Letras no Brasil, onde fui muito bem recebido quando bati  para pedir apoio. Em Santa Teresa, a academia chegou em 19 de abril de 1993, depois de uma peregrinação muito grande com reuniões por bares, restaurantes e pastelarias”, lembra Gonçalo.

Na diretoria, eram somente três os cordelistas: o presidente, Gonçalo Ferreira da Silva, o vice, Apolônio Alves dos Santos e o diretor cultural, Hélio Dutra. Hoje em dia, a academia é formada por um colegiado com 40 acadêmicos e conta com mais de 13 mil títulos publicados, muitos deles à venda na sede, em Santa Teresa. No site da ABLC, na página onde se encontra o estatuto, Gonçalo Ferreira da Silva publicou um cordel que celebra a criação da instituição:

"Da inspiração mais pura,
No mais luminoso dia,
Porque Cordel é cultura
Nasceu nossa Academia
O céu da literatura
A casa da poesia."

Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC)
Horário de funcionamento: Diariamente, das 9h às 18h
Endereço: Rua Leopoldo Fróes, 37, Santa Teresa - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2232-4801

Siga @tvguniversidade

Fonte:Globo Universidade

sábado, 26 de janeiro de 2013

Folhetos de Cordel contribuem para a melhoria do processo de ensino aprendizagem

Nos últimos anos, uma ampla quantidade de autores tem voltado seu olhar para a temática da utilização de múltiplas linguagens como suporte didático nos processos de ensino e de aprendizagem. Dito de outra forma, o uso de novos recursos e suportes didáticos, que subsidiam estratégias de ensino inovadoras e diferenciadas. A literatura de cordel é um veículo que permite as pessoas participar da vida do país, como debater a realidade, expressar suas necessidades e aspirações. Retratando tradições, costumes, lendas e acontecimentos; e, trazendo consigo todo um conjunto de manifestações artísticas e culturais.

Especialistas apontam que motivos não faltam para persuadir os professores, das várias disciplinas, a abordar os folhetos de cordel em sala de aula. Em primeiro lugar, por serem escritos em versos compostos segundo um padrão que favorece a realização de leituras em voz alta; segundo, por apresentarem as histórias e as notícias interpretadas de acordo com os valores compartilhados por seu público-alvo. “Também por retratarem a vida de personalidades, os feitos de cangaceiros, as espertezas de heróis e apresentarem adaptações de narrativas eruditas da literatura nacional e estrangeira, como Iracema, de José de Alencar, Romeu e Julieta, de Shakespeare. Não podemos nos esquecer, ainda, de que os folhetos possibilitam a promoção de debates, de dramatizações, de produção e análise de xilogravuras”, acrescentou Maria Sidalina Gouveia, supervisora Pedagógica de Língua Portuguesa do Instituto Qualidade no Ensino (IQE).

Segundo ela, os folhetos de cordel demonstram, com clareza, que os limites entre escrita e oralidade, entre letrados e iletrados, estão muito além da possibilidade de decifração de um código gráfico. “Parte do público tradicional dos folhetos é capaz de reconhecer as palavras escritas em romances eruditos, como os de Machado de Assis, porém essa habilidade não é suficiente para que apreciem o texto, ou seja, para que possam compreendê-lo em sua essência, mas a adaptação da mesma obra para o cordel é perfeitamente compreendida e estimada por esse e pelos demais públicos”, frisou.

Sidalina lembra ainda que é útil investir em uma abordagem comparativa entre os folhetos de diferentes autores e épocas e entre folhetos e outras obras literárias, sobretudo as que foram adaptadas para o cordel. “O intuito desse trabalho não é o de formar poetas, mas leitores, portanto, se a escola contribuir com essa formação, certamente estará cumprindo seu papel. Abrir a sala de aula para a literatura de cordel é uma importante conquista; há que se pensar de que modo efetivá-la tendo em vista a formação de leitores”, analisou a supervisora do IQE. Considerar essa literatura apenas ferramenta que pode contribuir para a assimilação de conteúdos das várias disciplinas escolares não possibilita, de acordo com a especialista, a construção de uma significativa experiência de leitura do gênero textual cordel. Fonte: 180 graus.

Via: @onordeste

Fonte: Nação Nordestina

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Literatura de Cordel enquanto veículo de contestação: O caso do cordel “Confusão no Cemitério”

 

Por José Romero Araújo Cardoso

          Marca indelével da cultura nordestina, a literatura de cordel traduz reações diversas, ao nível ficcional, de críticas a situações injustas e desejos internalizados em efetivar mudanças sociais praticamente impossíveis de se concretizarem no plano real.
          O preconceito com relação à literatura de cordel impediu que um brilhante cordelista paraibano, radicado no Rio de Janeiro, conhecido por Raimundo Santa Helena, pudesse concorrer a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Essa manifestação, com certeza, está ligada às condições materiais e sócio-econômicas da produção desse gênero literário, do qual possui vínculos, primordialmente, com as camadas menos favorecidas, sobretudo no Nordeste brasileiro, riquíssimo celeiro de cordelistas e repentistas, a exemplo de Leandro Gomes de Barros, considerado de fato o verdadeiro “príncipe dos poetas brasileiros”, na expressão simpática de Carlos Drummond de Andrade.

Carlos Drumond de Andrade

         A arrogância do refinamento “erudito” impede que a literatura de cordel seja valorizada na forma exata como merece ser, principalmente devido a “má qualidade da impressão, o pouco caso com a “correção” linguística  a presença marcante da oralidade, o fato de ser tradicionalmente vendida em feiras e o tipo de consumidor, em geral pessoas de baixo nível escolar.
          No ensejo da resistência cultural empreendida pelos grandes menestréis das feiras e esquinas da maioria das cidades regionais, encontramos o homem e a luta pela afirmação da literatura de cordel personificados em José Ribamar Alves, um dos nobres guerreiros da cultura popular aquartelado em Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte.


arievaldocordel | POETA JOSÉ RIBAMAR, DE MOSSORÓ

José Ribamar Alves


          José Ribamar Alves nasceu em 16 de março de 1962, no sítio Solidão, município de Caraúbas, Estado do Rio Grande do Norte, embora registrado em Severiano Melo, Estado do Rio Grande do Norte, onde foi criado. É filho de José Alves Sobrinho e Rosa Maria de Carvalho. Casado com Rita de Oliveira Carvalho, reside em Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte. Tornou-se repentista profissional a partir de 1983, sendo autor de diversos títulos de cordel, a exemplo de “Armadilhas do Destino”, “Pela Vida do Planeta”, “A Quebra de Silêncio”, “A Crueldade de Osama e A Vingança de Bush” e “Confusão no Cemitério”.

          No cordel “Confusão no Cemitério” (Coleção Queima-bucha de Cordel – nº 10 – Março de 2002 – Mossoró - RN), cuja inovação na arte de capa, em xilogravura, se deve ao não menos renomado poeta popular Antônio Francisco, efetivada pelo artista plástico e poeta Laércio Eugênio, José Ribamar Alves expressa os pormenores do seu IMAGINÁRIO fantástico ao contestar a ordem estabelecida através de confusões na vida após a morte.
Um cemitério do Rio de Janeiro, cidade onde os contrastes são mais acentuados, imperando a violência urbana e a corrupção, as quais andam de mãos dadas em consonância com o recrudescimento das diferenças interclasses, serve de cenário para a narrativa.
          As confusões de um coveiro atrapalhado, conhecido por “biriteiro”, são narradas na terceira pessoa do singular, as quais tiveram como veículo as confissões de um personagem que o autor deu o nome de Fernando de Risadinha.
Invocando contatos com o além, José Ribamar Alves traça o perfil da sociedade através da continuidade das relações de poder observadas no mundo dos vivos. O coveiro recebe visita de pessoa morta que vem lhe reclamar do serviço errado que o deixou com as costas viradas no túmulo, de cujo gesto de vingança consistiu em trocar as cruzes do cemitério, invertendo as identificações dos mortos das quais pertenciam.
          A cruz de um marginal vai parar no túmulo de um Juiz Federal, enquanto um vigário e um pastor, após as inversões, acabam brigando, suscitando que faleceram desconhecendo o significado da palavra “amor”. Cartola desesperado com a confusão da troca de cruzes demonstra que tem poder, mesmo após a morte, convocando a repressão do aparelho do Estado, da mesma forma quando vivo, fazendo o maior escarcéu na necrópole, invocando ainda os poderes de um pai de santo, também falecido.
          Como no mundo dos vivos, apenas pobres e excluídos sofrem com a algazarra das almas penadas, enquanto chefão de drogas, banqueiro de jogo, advogado e político não são molestados.
O desejo de revanche fica explícito quando a alma de um “cabra desassombrado” “Meteu um braço de cruz/ Na nuca dum delegado/ Que ele caiu por cima/ Da caveira dum soldado” (Confusão no Cemitério, estrofe XXII). Isso serviu para “despertar” os marginalizados da letargia em que se encontravam, atentando contra a ordem estabelecida e afirmando, dessa forma, a contestação ao status quo. Rebelam-se mundana, travesti e jogador, além de cego, maneta, perneta, mudo, gari, escritor, jornalista, motorista, prefeito e vereador. Na verdade, desencadeia-se uma revolta em todas as classes, condicionada pela hegemonia que desfrutam àqueles que detém o poder, levando o autor a indagar sobre a repetição, entre os mortos, das mesmas situações de desigualdades terrenas, quando o cordelista destaca que “Também sei que entre as classes/ Há muita desigualdade/ De tudo elas são capazes/ Mas pra falar a verdade/ Eu não sabia que os mortos/ São da mesma qualidade” (Confusão no Cemitério, estrofe XXIX).
          A exclusão social, infelizmente, ainda é uma mácula na sociedade brasileira e o cordel, enquanto instrumento de afirmação das classes populares, cumpre o papel de bradar contra as injustiças e em favor das aspirações do povo brasileiro.
          Em “Confusão no Cemitério” José Ribamar Alves sintetiza a cosmovisão popular e o seu imaginário quanto ao desejo de buscar a superação das distorções sociais que separam ricos e pobres num fosso indevassável da realidade criada pelas elites que se arvoraram em donas do poder desde nossa formação sócio-econômica.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.

Fonte: Blog do Mendes e Mendes

Literatura de Cordel: a memória do sertão em folhetos

 

Por Mariana Keller 

Ai! Se sêsse!…
(Zé da Luz)

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?

Versos despreocupados, linguajar informal e livretos coloridos. Esses são os ingredientes principais para compor uma boa literatura de cordel.

Inspirada na literatura de cordel portuguesa, onde os autores declamavam seus textos para o público acompanhados do som de uma viola, e também na literatura francesa de colportage do século XVII, que tinha o objetivo de difundir a linguagem popular, a nossa literatura de cordel veio com os próprios colonos portugueses e nasceu no Nordeste do Brasil. Seus versos falam sobre a trajetória do povo do sertão.

Os textos são poéticos, rimados e publicados em pequenos livros de papel feitos manualmente pelos próprios autores. Eles são feitos com apenas uma folha dobrada estrategicamente para formar oito páginas, mas alguns podem chegar até 32. A venda também é feita pelos autores, geralmente em feiras nordestinas ou nas ruas, onde são expostos em um fio de barbante.

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Os temas são variados e representam, principalmente, a opinião do autor a respeito de algo na sociedade e no seu cotidiano. A linguagem não é impessoal e muito menos imparcial, são utilizadas várias técnicas de persuasão para convencer o leitor a acreditar nos acontecimentos narrados nos cordéis.

Os assuntos transitam entrem aventuras, mitos, lendas, romances, boatos e histórias cômicas. É muito comum encontrar também cordéis que reproduzem desafios de ícones nordestinos como Lampião, Padre Cícero e Frei Damião. Os temas mais sérios como os religiosos, políticos e sociais também estão muito presentes. Grande parte dos autores aproveita para criticar a realidade e as condições em que vivem, sempre abusando da ironia e do sarcasmo.

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Podemos dizer que o cordel também tem caráter jornalístico, já que os desastres, as inundações, as secas, os cangaceiros, as reviravoltas políticas são retratadas em centenas de títulos por ano. Um bom exemplo disso é o cordel intitulado “A lamentável morte de Getúlio Vargas", que foi feito imediatamente após o cordelista Delarme Monteiro da Silva escutar a notícia do suicido do ex-presidente no rádio. O sucesso foi tanto que ele vendeu 700 mil exemplares em apenas dois dias. Outros assuntos da mídia que tiveram grande repercussão foram "O trágico romance de Doca e Ângela Diniz" e "Carta do Satanás a Roberto Carlos”, este último inspirado na música "Quero que vá tudo pro inferno”, do rei da Jovem Guarda.

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Entre os autores principais estão Leandro Gomes de Barros e João Martins de Atahyde. Leandro foi o pioneiro na publicação, edição e venda dos poemas e lançou o primeiro cordel em 1893. Ele foi o mais famoso e importante cordelista e vendeu mais de um milhão de exemplares do seu livreto “O Cachorro dos Mortos”.

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Já João, foi o que mais produziu, além dos seus inúmeros escritos, ainda comprou os direitos autorais das obras de Leandro quando ele faleceu. Cuíca de Santo Amaro, também foi um importante autor e talvez o mais radical de todos. Fazia denúncias contra corruptos de sua época e era amigo íntimo de Jorge Amado, que o incluiu como personagem em alguns de seus contos, como o famoso “A Morte de Quincas Berro D’água”.

Outra característica marcante da literatura de cordel são as xilogravuras. Esse método de ilustração é primeiramente esculpido em madeira e depois impresso no papel. As capas dos livretos são sempre ilustradas com esses desenhos e, atualmente, muitos xilógrafos nordestinos vendem suas gravuras individualmente.

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Esta manifestação popular já foi muito estigmatizada e sofreu muitos preconceitos pela informalidade de sua estrutura e linguagem. Com o passar dos anos, passou a ser cada vez mais respeitada e hoje é admirada por muitas pessoas em diferentes lugares do país, tendo ganhado, inclusive, uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Juntando poesia, gravura e protestos, a literatura de cordel representa uma das mais interessantes expressões da arte brasileira. Além disso, influenciou renomados escritores brasileiros como Jorge Amado, Guimarães Rosa e José Lins do Rego, mostrando que nem sempre o que é popular é de baixa qualidade.

Ave-Maria da Eleição
Leandro Gomes de Barros

No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a opposição
Ave Maria.

Via-se grupos de gente
Vendendo votos nas praças
E a arna dos governos, [a urna do governo]
Cheia de graça.

Uns a outros perguntavam
O Sr. Vota comnosco
Um chaleira respondia
Este é com vosco.

Eu via duas panellas
Com miudo de 10 bois
Comprimentei-a dizendo
Bemdita sois.

Os eleitores com medo
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
Entre as mulheres.

Os candidatos chegavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para elles
E' bemditos fructos.

O mesario do governo
Pegava a urna contente
E dizia eu me gloreio
Do teu ventre.

A opposição gritava
De nós não ganha ninguem
Respondia os do governo
Amen.

Fonte: Obvious