CORDEL PARAÍBA (DESDE 2010): ESPAÇO DESTINADO À PUBLICAÇÃO DE POEMAS, NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES DIVERSAS RELACIONADAS À LITERATURA DE CORDEL (Via celular, acesse o conteúdo completo clicando em "visualizar versão para a web" no final da página.)
CORDEL PARAÍBA
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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.
A bandeira nordestina É uma planta iluminada É qualquer raiz plantada Mostrando o caule maduro E quando o sol varre o escuro Com luz e sombra no chão É quando germina o grão É quando esbarra o machado
É quando o tronco hasteado É sombra pro polegar É sombra pro fura-bolo É sobra pro seu vizinho É sombra para o mindinho É sombra prum passarinho É sombra prum meninote É sombra prum rapazote
É sombra prum cidadão É sombra para um terreiro É sombra pro povo inteiro Do litoral ao sertão Essa bandeira que eu falo Tem cores de poesia Tem verde-folha-avoada Amarelo-jaca-aberta
Em tudo que é vegetal Tem bandeira desfraldada No duro da baraúna No forte da aroeira No bandejar buliçoso Das folhas das bananeiras Das bandeirolas dos coentros E na marca sertaneja: O rijo e forte umbuzeiro
(Me balançando na rede Numa taipa do Sertão. Enquanto o Sol se escondia Eu ouvia esta canção... E num passeio ao passado Me veio à recordação. Manoel Belizario)
Recebi pelo correio Carta de um hospital Dizendo ser de um cliente Que passava muito mal O qual eu já tinha lido o Seu nome em um jornal
Dizia: caro poeta só Você que tem memória Pode transformar em versos Minha fracassada história
Meu destino veio traçado Com a minha formação O ventre que me gerou Foi desmando e traição Fui maldito desde o dia Da minha concepção
Passei por cima da pílula Fui gerado em desconforto Minha mãe tomou remédio Pra ver se eu nascia morto
Vim ao mundo por acaso E não conheci meus pais Fui jogado em um cerrado Em pedaços de jornais A polícia achou-me quando Procurava marginais.
Alguém de mim tomou conta Me fazendo uma esmola. Me criaram como filho E me botaram na escola Me criaram como filho E me botaram na escola.
Não quis saber de trabalho, Estudar não dei valor Sempre desobedecendo Ao meu superior Batia nos meus colegas. Xingava meu professor
Peguei o vício das drogas Junto com a corriola Minha vida foi maldita Mesmo dentro da escola
Fui expulso de um colégio Por traficância ilegais Desonrei uma menor E fugi da casa dos pais E parti para a pesada Num grupo de marginais
Não conto tudo a miúdo Porque meu tempo não dá Não quis nada com o trabalho Meu negócio era roubar
Traficante e assaltante Todos temiam a mim Fui terror da noite escura E fiz tudo que foi ruim Um germe assim como eu Só presta levando o fim
Sempre fugindo do cerco E matando de emboscada Seduzi muitas donzelas Fiz assalto à mão armada
Naquele mesmo lugar Onde eu fui encontrado Pela ronda da polícia Há muito tempo passado Me escondendo de um assalto Por ela eu fui baleado
A bala entrou no meu peito E feriu meu coração Já fizeram muito esforço Mas não tenho salvação
Não te escrevo mais porque Minha vista está tão pouca Falar também eu não posso Minha garganta está rouca Termino a carta botando Muito sangue pela boca
O campo é um paraíso Descoberto de repente Nos pedestais da saudade Q vem embalando a gente Neste mundo de cidade Competitivo e doente.
O Sertão vai residindo Dentro de nós, permanente. Aos poucos distanciado. Sumindo constantemente. Brilha um sol sertanejo No olhar de um filho ausente.
Ó luar de meu Sertão. Ó noites escurecidas. Minha Laje, sítio Lajes Início de minha vida. O açude Frutuoso Chorou em minha partida.
Ó Lajes, meu sítio Lajes... Minhas fogueiras São João... Meu forró de pé-de-serra... Minhas roças de feijão... Meus riachos de piaba... Meu mungunzá..., meu baião...
Ó Lajes, Meus sítio Lajes... Chegou a televisão Roubando a cena da lua. Roubando a nossa atenção. Já não se lê mais cordel Nas debulhas de feijão.
Caros amigos, a nossa Web Rádio ficou desativada por um tempo por falta de recursos. Como ainda não podemos colocá-la no ar nos moldes almejados, relançamos a mesma num modelo simples. Todos os dias postaremos novas canções. Serão priorizadas cantorias e músicas cujas nuances perpassem as características da literatura de cordel e a poesia popular em geral. Para ouvir siga o link http://www.lognplay.com/index.asp?pg=r&c=6058
Os Nonatos Composição: Nonato Costa e Raimundo Nonato
(Ah minha infância passada/Tempo que não volta mais/Esta canção é um tributo/Pois a saudade é demais – Manoel Belizario)
Eu gostaria de inverter o tempo E interditar a rota do destino Pra reviver aquelas fantasias Que eu arquivei n’alma de menino Aquela estrada cortando o terreiro E uma cancela um pouco mais na frente E as flores brancas Coroando os jarros da casa da gente
Os nossos filhos são do que nos fomos Real semelhança Que todo adulto trás dentro de sí Um sonho de criança
Fiz muitas vezes no oitão de casa Curral de pedra e boiada de osso Fechava os olhos pra ganhar um beijo Na brincadeira de cair no poço Carro de flandres, cavalo de pau. Eram os brinquedos que eu fazia escolha E o meu dinheiro Feito de carteira de cigarro e folha
Criei canário e concertei gaiola Brinquei de bila, pião e ponteira. Bola de meia, carrapeta e pipa Bornau de saco, pedra e baladeira. Infelizmente mudou o cenário Daquelas cenas que a infancia fez Passou o filme E o tempo não deixa que eu veja outra vez
Sr. Deus dos desgraçados O que será desta terra? Enquanto uns mentem outros morrem No litoral e na serra A violência e a fome São os senhores da guerra.
Enquanto a bobagem impera No planeta Besteirol Há miseráveis na África Ou na frente do meu hall. Vou me entretendo banal Discutindo futebol.
Não espere o sofrimento Para ter compreensão Que este mundo só melhora Se todos dermos as mãos E agirmos uns coms os outros Como se faz com irmão.
Não adianta querer Ser melhor do que outrem, Pois qdo a doença chega Destruindo nosso 'alguém' Percebemos: "somos nada" Ou simplesmente:ninguém.
Sei que as minhas palavras Parecem mais pregação, Porém pode corrigir Se eu não tiver razão. Este mundo está ferido Só o amor é a solução.
á vem montado em seu alazão Chapéu de couro, laço na mão Seu belo charme me faz cantar No rosto um grande lutador Que trabalha com calor Com toda dedicação...
Oh! meu Vaqueiro, meu Peão Conquistou meu coração Na pista da paixão E valeu o boi...(2x)
Eu estou sempre ode ele está Forró, vaquejada qualquer lugar Eu vou seguindo o meu Peão Seus braços fortes, sua cor Vaqueiro eu quero o teu calor Em seus braços quero estar...
Oh! meu Vaqueiro meu Peão Conquistou meu coração Na pista da paixão E valeu o boi...(2x) Teu amor valeu o boi! Teu calor valeu o boi! Ter você valeu o boi! Meu Vaqueiro...(2x)
Já vem montado em seu alazão Chapéu de couro, laço na mão Seu belo charme me faz cantar No rosto um grande lutador Que trabalha com calor Com toda dedicação...
Oh! meu Vaqueiro, meu Peão Conquistou meu coração Na pista da paixão E valeu o boi...(2x) Teu amor valeu o boi! Teu calor valeu o boi! Ter você valeu o boi! Meu Vaqueiro...(2x)
Com um grande movimento Indo e vindo em sintonia Sem ter um sinal de transito Sem ruas nem ciclo via Não acontece batida Nem engarrafa avenida Tudo em perfeita harmonia
Guarda de trânsito não tem O transito flui desse jeito Ninguém reclama um do outro Todos guiando direito Literalmente mulher Guiam pra frente e de rer Num movimento perfeito
Um entra e sai da garagem Em grande velocidade Sem ter um sinal de transito Em toda grande cidade Guiando com perfeição Em contraria Direção Isso que é habilidade
E assim que funciona transito certo e ordeiro Todos são habilitados A guiar sem paradeiro Um transito assim existe Não foi ninguém que me disse só olhei um formigueiro
(Ouça um poema espetacular do poeta e cantor paraibano Amazan)
Eu ainda era menino A premera vez que vi O cabocão lazarino E nunca mais esqueci Seu nome era tranca rua Pois quando a vontade sua Era fechar a cidade Dava ordem pra trancar Mercado, bodega, bar E até a casa do padre
Quatro, cinco, seis soldado Para ele era perdido Uns ficava istrupiado Outros ficava estendido De modos que a cidade Não tinha tranqüilidade No dia que ele bebia Pois quando se embriagava Dava a gota bagunçava E prendê-lo ninguém podia
Tranca rua era um caboco De dois metros de artura Os braço era aqueles tôco As pernas dessa grossura Não tinha medo de nada Pois até onça pintada Ele sozinho caçava Pegava a bicha com a mão Depois com um cinturão Dava-lhe uma pisa e matava
E eu cresci-me escutando Falar do cabra voraz O tempo foi se passando E eu tormei-me rapaz Mole que só a mulesta Pois até pra ir uma festa Eu era discunfiado Se acaso visse uma briga Me dava uma fadiga Eu ficava todo mijado
Quem hoje olha pra mim Pensa até que eu tô inchado Mais eu nunca fui assim Naquele tempo passado Eu era um cabra mufino Desses do pescoço fino Da cabeça chata e feia No lugar onde eu morava O povo só me chamava De caboré de urêia
Por artes do mangangá Um dia eu me alistei Num concurso militar E apois num é que eu passei? E me tornei um sordado Mago feio e infadado Nem cum revóve eu pudia Porém se o chefe mandasse Prendê alguém qui errasse Dava a gota mais eu ia
Um dia de madrugada Eu estava bem deitado Quando chegou Zé buchada Com os óio arregalado Foi logo chamando a gente Depois deu parte ao tenente Relatou o desmantelo Traça rua ontem brigou Portanto agora o Senhor Vai ter que mandar prendê -lo
O tenente olhou pra mim Eu chega tive um abalo Disse: - Amanhã bem cedim Você vá lá intimá-lo Disse isso e foi se deitar Eu peguei logo a ficar Amarelo e mêi cansado Deu-me uma tremedeira E eu disse é a derradeira Viagem desse soldado
No outro dia bem cedo Eu pus o pé no camim Ia tremendo de medo E cunversando sozim Aqui e acolá parava Fazia um gesto insaiava O que diria pra ele E saí me maldizeno Nove hora mais ou menos Eu cheguei na casa dele
Fui chegando com cuidado A casa estava trancada Eu fui olhando de lado Vi ele numa latada Tava dum bode tratano Eu fui lá me aprochegano Pra perto do fariseu Minha garganta tremia Eu fui e disse assim: Bom dia! Ele nem me arrespondeu
E eu peguei conversando E me aprochegano mais E ele lá trabaiano Sem me dá nenhum cartaz Eu disse: - Bonito dia Eihm! Seu Toím quem diria Que esse ano ia chuver Eita qui bodão criado É pra vender no mercado Ou mode o senhor cumê
Aí ele olhou pra mim Eu peguei logo a surri Ele diche bem assim Qui diabo tu qué aqui? Aí eu diche não sinhô É qui eu sou um caçador Qui moro no pé da serra Me perdi de madrugada Não achei mais a estrada E saí nas suas terra
Aí ele me interrogou Então cadê seu bisaco? Eu diche ah! Não sim senhor Caiu dentro dum buraco Ele diche sente aí Qui eu tô terminando aqui Qui é pra mode conzinhar E você chegou agora Portanto só vai imbora Adispois qui armoçá
Quando nóis tava armonçando Ele pegou cunversar E diche: -Faz vinte anos Qui moro nesse lugar Sem mulé e sem parente As vezes tomo aguardente Faço papel de bandido Eu sei qui é covardia Mas quando é no outro dia Eu to munto arrependido
Então eu disse é agora Qui faço a minha defesa Peguei a fera na hora Dum momento de fraqueza Aí disse: - Realmente O sinhor é diferente Quando istá imbriagado Mais dexe isso pra lá Qui a vida vive a passar E o qui passou ta passado
Viu seu Antoim tem mais uma Eu nunca fui caçador Tombem istô cum vergonha De tê mentido ao sinhô Eu sou um pobre sordado Qui as orde do delegado Meu devê é dispachar Porém prefiro morrer Do que dizer a você Qui vim aqui lhe intimar
Se o delegado achar ruim Pode tirar minha farda Mais intimar seu Toím Deus me livre intimo nada Nisso Ontoim se levantou Bebeu água se sentou Dispois pegou preguntar Quer dizer qui o sordado Pur orde do delegado Veio aqui mi intimar
Eu fui falar mais não deu Peguei logo a gagejar Nisso Ontoim oiou pra eu Disse: -Pode se acalmar Resolvi ir com você Pra cunversar e saber O qui quer o delegado Pois se eu não for camarada Vão tirar a sua farda E eu vou me sentir curpado
E vamo logo si imbora Enquanto eu tô cum vontade Mais ou menos quatro hora Fumo entrando na cidade De longe eu vi o tenente Assentado num batente Cum uns cabra a cunversar Qui quando viu nóis gritou: -Valei-me nosso Senhor Ispie só quem vem lá
Eu só tou acreditando Porque meus óio estão vendo Tranca rua vem chegando Caboré vem lhe trazendo O cabra é macho demais Nisso eu fui e passei pra trás Que é pra chamar atenção E só pra me amostrar Eu resolvi impurrar Tranca rua cum a mão
Esse nêgo camarada Ficou meio enfurecido Deu-me uma chapuletada Por cima do pé do uvido Qui eu saí feito um pião Rodano sem direção Pru cima de pedra e pau Graças a Virge Maria Só acordei no outro dia Na cama dum hospital
Não sei o qui se passou Dispois qui eu dismaiei Por que ninguém me contou E eu tombem não perguntei Eu só sei qui o delegado Até hoje é aleijado E qui esse uvido meu Nunca mais iscutou nada Adispois da bordoada Qui Tranca rua me deu.
Neste último dia dois um grande amigo meu, Luiz José de Santana, fez aniversário. Luiz foi membro de dois programas sociais nos quais atuei enquanto educador social. Sua festa ocorreu ontem à noite na ladeira do centro histórico. No ateliê de Eleonai Gomes. Compus uns versos especialmente para a ocasião os quais partilho com vocês.
Luiz (à esquerda) com seu pai
Grupo Cultural de dança-afro ‘Raízes’ do qual Luiz faz parte
Momento em que recitei os versos
VERSOS EM HOMENAGEM AO AMIGO LUIZ
Amigos aqui presentes Brevemente vou contar Como conheci Luiz E como viemos nos tornar Grandes amigos irmãos Conforme vou relatar.
Fora em 2006 Que virei educador Do extinto agente jovem Trabalhando com amor Em Cruz das Armas apesar Do grupo se contrapor.
Eu não fui bem recebido Pelo grupo de agentes. E o que também ajudou Foi eu ser muito exigente Com horário e comportamento Deixando-os descontentes.
Foram seis pesados meses Eu querendo organizar E o grupo inteiro se opondo. Só queriam bagunçar Foi quando Luiz chegou E começou a ajudar.
Assim que o conheci Achei-o meio gaiato. Fazia parte do PETI E ele o era de fato Porque para aquela idade Isto é componente nato.
Quando entrou no Agente Jovem não simpatizava Comigo porque o grupo Mal, de mim todo falava, Porém ele percebeu Que errado o grupo estava.
Porém como quem conhece Luiz sabe muito bem Que ele testa a pessoa Para provar se convém O que as pessoas dizem A respeito de alguém.
Lembro-me de uma mancada Que dei como liderança Daquela faixa etária Sei que me vem á lembrança Que Luiz me pediu algo E agi com desconfiança.
Eu disse a ele no duro “Eu não confio em você. Prove pra mim se eu posso Confiar e então vai ter O que estás me pedindo E terás por merecer”.
Senti naquele momento O ar da decepção Ele ficou muito triste Mas sem dar demonstração. Ele agora vivia Querendo me dar lição.
Qualquer deslize que eu desse Ele marcava cerrado Contrargumentava muito Dizendo que eu tava errado. Foi uns dois meses de guerra Eu pensava “tô lascado”.
Porém aquele moído Em vez da inimizade Trouxe a aproximação Que se tornou em amizade. Tornou-se meu aliado Número um na verdade.
Aí ele se entregou Ao modesto ensinamento Deste ente que vos fala Ele escutava atento E como é de seu feitio Trazia questionamento.
Alguns momentos chegava Com umas idéias erradas Vinha conversar comigo Eu apontava a estrada, Porém deixando-o livre Pra seguir sua empreitada.
Daqui a pouco ele estava Também a me ensinar. Vez em quando discutíamos, Mas nada de salutar. Logo de novo estávamos Próximos a conversar.
E assim um dia ele Disse Manoel então Agora o que me diz? Confia em mim ou não? Eu disse “agora confio” E pedi o seu perdão.
Por eu ter sido tão duro No meu modo de falar. Mas sei que isto foi bom Porque fez ele mudar O seu jeito de agir Que me fez desconfiar.
Depois veio o Projovem E ele permaneceu Agora estava mais velho, Portanto amadureceu Hoje me orgulho por ver O caminho que escolheu.
Veio outra fase difícil Pro nosso amigo Luiz Mas agora ele já estava Disposto a ser feliz Por isto o caminho bom Foi a vereda que quis.
De tudo o que nós vivemos Eu fui maior aprendiz Quanta coisa me ensinaram Os outros e também Luiz Agradeço a Deus por tudo E isto me faz feliz.
Parabéns meu grande amigo Por mais um ano vivido De muitos que ainda virão. Para dar maior sentido A vida de seus amigos E de seus entes queridos.