CORDEL PARAÍBA

**

Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



domingo, 30 de outubro de 2011

Projeto Cordel nas Comunidades Quilombolas levará conscientização antidrogas para afrodescendentes

As comunidades quilombolas tocantinenses: Pé do Morro, Projeto da Baviera, Dona Juscelina, Grotão, Cocalinho e arredores, receberão a partir desta sexta-feira, 28, toda a magia da literatura de cordel, por meio de palestras educativas antidrogas do cordelista Júnior Brasil e distribuição de livretos de cordel, em Santa Fé do Araguaia, região Norte do Estado.

A ação é fruto do Projeto Cordel nas Comunidades Quilombolas, uma realização da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos, por meio da Superintendência de Proteção dos Direitos Humanos e Sociais, Diretoria de Proteção dos Direitos das Etnias e Minorias e Coordenadoria dos Afrodescendentes, com apoio da Superintendência de Ações sobre Drogas e Fundo Estadual sobre Drogas.

O Projeto contemplará as 27 Comunidades Quilombolas do Tocantins, reconhecidas como remanescentes de quilombos pela Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura. O objetivo maior é levar conscientização antidrogas aos jovens quilombolas e aos seus pais, através de ações preventivas e educativas para o combate às drogas. E o método escolhido foi o cordel, uma forma divertida e diferente de mostrar à juventude os perigos que elas trazem.

O cordelista Júnior Brasil, autor de livretos de cordéis pretende contribuir com os representantes das Comunidades Quilombolas e os técnicos que atuam junto a elas para fomentar o protagonismo infanto-juvenil, a vivência da cidadania com dignidade e o fortalecimento dos laços familiares, comunitários e socioculturais como forma de prevenção ao uso abusivo de álcool e outras drogas ilícitas.

Além disso, Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos e sua equipe técnica estarão aplicando questionários em todas as comunidades quilombolas, no intuito de obter dados para um diagnóstico preciso sobre o perigo das drogas nas comunidades, o que permitirá a realização de futuros projetos na área.

Fonte: governo-to.jusbrasil.com.br

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Salgueiro define o samba-enredo para 2012

O Salgueiro é a terceira escola do Grupo Especial a definir o samba-enredo para 2012. Depois da maratona que começou na noite de terça-feira só terminou por volta das 5h de ontem, a Vermelha e Branca escolheu a parceria assinada por Marcelo Motta, Tico do Gato, Ribeirinho, Dílson Marimba, Domingos PS e Diego Tavares. O enredo Cordel Branco e Encarnado, dos carnavalescos Renato e Marcia Lage, vai falar do Nordeste a partir da literatura de cordel.

Linda num vestido vermelho, a Rainha Viviane Araújo brilhou à frente dos ritmistas. Apesar de ter recebido a maioria esmagadora dos votos, o samba vencedor não era o preferido da presidente da escola da Tijuca, Regina Celi, nem do mestre da bateria, Marcão, que escolheram a composição de Xande de Pilares, cantor do grupo de pagode Revelação.

O compositor Ribeirinho participou do concurso na escola pela primeira vez, depois de passar oito anos da Beija-Flor, onde faturou a disputa duas vezes. "Essa vitória foi uma surpresa muito grande. Não esperava chegar tão bem assim no Salgueiro. Meu jeito de fazer samba era diferente, porque na Beija-Flor o modo de compor é outro", afirmou ele, que listou as principais qualidades do hino campeão. "É um samba como há muito tempo não se via no Salgueiro. A melodia é linda e os refrões são fortíssimos".

Há nove anos no Salgueiro, Renato Lage exaltou a força do enredo: "É um tema de grande apelo popular. Vamos exaltar a cultura nordestina e a literatura de cordel, que está muito presente na vida das pessoas. O objetivo é fazer uma louvação aos poetas cordelistas com muita poesia".
Amanhã, Portela, São Clemente e Porto da Pedra escolhem seus sambas para o próximo ano.

APRENDA A LETRA

"Sou cabra da peste
Ô, minha ‘fia',
Eu vim de longe pro Salgueiro
Em trovas, errante, guardei
Rainhas e reis e até
Heroico bandoleiro
Na feira vi o meu reinado
Que surgia qual folhetim,
Mais um ‘cadim', vixe maria!
Os 12 do imperador
Que conquistou
O romanceiro popular
Viagem na barca,
A ave encantada
Amor que vence na lenda
Mistério pairando no ar
Cabra macho justiceiro
Virgulino é Lampião!
Salve, Antônio Conselheiro,
O profeta do Sertão
Vá de retro, sai assombração
Volta pra ilusão do Além
No repente do verso
O ‘bicho' perverso
Não pega ninguém
Ô, meu ‘padinho',
Venha me abençoar
Meu santo é forte,
Desse ‘cão' vai me apartar
Quero chegar ao céu
Num sonho divinal...
É carnaval! É carnaval!
Salgueiro, teus trovadores
São poetas da canção
Traz sua Côrte,
É dia de coroação
Não se ‘avexe', não
Salgueiro é amor
Que mora no peito
Com todo respeito,
O rei da folia
Eu sou o cordel
Branco e encarnado
‘Danado' pra versar
Na Academia"

Fontes: one.meiahora.com e www.salgueiro.com.br

'O Verso e o Briefing' desvenda relação da literatura de cordel com a publicidade

De forró universitário a resenhas de grandes livros, a autora paraibana de Campina Grande Clotilde Tavares fala de tudo com mestria em seus diversos livros e, virtualmente, em seu blog Umas e Outras. Residente de Natal há mais de três décadas, formou-se médica, mas trocou a rotina de consultórios e hospitais por uma sólida carreira literária, que recentemente ganhou mais um título, o livro “O verso e o briefing – A publicidade na literatura de cordel”.
O livro conta a história dos “folhetos de propaganda”, peças utilizadas pelos cordelistas com fins publicitários e a relação da literatura de cordel com a publicidade. Tudo isso com o envolvente texto de Clotilde Tavares. Como conta a autora, a ideia nasceu a partir de um trabalho acadêmico encomendado pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo.
O diretor da instituição, José Roberto Withaker Penteado encomendou à autora um seminário sobre o assunto. O evento foi tão bem sucedido que Clotilde, posteriormente, aprofundou a pesquisa e a converteu num delicioso pocket book sobre nossa cultura. A Escritora, dramaturga, professora, cronista e pesquisadora, Clotilde Tavares publicou os livros “A botija”, “A agulha do desejo”, “A magia do cotidiano”, dentre vários outros.
A obra marca a estreia do Escribas de Bolso, dedicado à publicação de grandes obras em formatos pequenos. O selo Jovens Escribas, idealizado por Carlos Fialho, Patrício Jr e Daniel Minchoni, nasceu - como contam os autores em site oficial - da "inquietação de viver numa cidade em que a literatura produzida era basicamente regional. Cansados da falta de renovação da literatura potiguar, os autores arregaçaram as mangas e buscaram formas de viabilizar suas idéias".
Hoje, com mais de 10 publicações, o selo virou editora e se profissionalizou. Agora, agrega também a Distribuidora DaGota, que leva os livros de várias editoras a estados como Pernambuco e Ceará; o selo Bons Costumes, que publia livros customizados de baixas tiragens; e a loja virtual Jovens Escribas, que comercializa exemplares físicos e virtuais para todo o mundo.
É possível comprar 'O verso e o Briefing' aqui.

Fonte: Jovens Escribas via www.vivaviver.com.br

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Membros da Academia Brasileira de Literatura de Cordel vem a Caruaru com vários eventos - PE

Fonte: jornaldecaruaru.wordpress.com

http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/408746/gd/1256522839/ACADEMIA-BRASILEIRA-DE-LITERATURA-DE-CORDEL.jpg

Nos próximos dias 14 e 15 de outubro, a ABLC, Academia Brasileira de Literatura de Cordel, entidade cultural permanente, sediada no Rio de Janeiro, fundada em 1988, que abriga no seu quadro de Acadêmicos e Beneméritos, os mais ilustres e representativos escritores e admiradores desta genuína expressão literária da Língua Portuguesa, a convite da ACLC – Academia Caruaruense de Literatura de Cordel, realizarão na cidade Caruaru – PE os seguintes eventos:

- Dia 14 apartir das 20:00h: A ACLC realizará o 2º Concurso Nacional de Literatura de Cordel

- Dia 15 apartir das 16:00h: A ABLC realizará sua Plenária de outubro.

O 2º Concurso Nacional de Literatura de Cordel. Será realizado e terá premiação de acordo com o seu regulamento publicado e em anexo, que faz parte integrante deste release.

A Plenária da ABLC é um encontro mensal de avaliações e congraçamentos do seu quadro de Acadêmicos e Beneméritos. Na ocasião, serão empossados os dois novos Acadêmicos recém eleitos, os poetas Marcelo Soares e José Honório e homenageados personalidades pernambucanas a seguir relacionadas.

BIOGRAFIA CONCISA DOS NOVOS ACADÊMICOS:

Marcelo Soares: Pernambucano de Olinda é artista gráfico, poeta cordelista, editor e arte educador. Nasceu em 1953, filho do Poeta Repórter José Soares, expoente e renomado cordelista pernambucano. Iniciou na gravura, em 1974 fazendo capas para folhetos de cordel, incentivado pelo pai. Marcelo Soares é autor de quase uma centena de folhetos de cordel publicados, expandiu suas atividades, incursionando por desenho e pintura, criando capas e ilustrações para livros, discos, cartazes para cinema, shows, teatro e outros eventos. Ilustrou obras para várias editoras, entre elas: Brasiliense, Itatiaia, Bagaço, CEPE, Prelo, Paulinas, Contexto, Global, Bagagem, e para os jornais: O Globo, Jornal do Brasil, O País, O Pasquim, Jornal do Commércio, Diário de Pernambuco. Trabalhou com Ariano Suassuna, (1994-1998), e ministrou oficinas de gravura em todo o Brasil. Como xilógrafo ministrou tambem, centenas de oficinas de iniciação a xilogravura em Portugal, França, EUA. e México.

José Honório: Pernambucano matuto do Recife, como se auto define, nascido em 1963. Seus pais nasceram e cresceram no meio rural. Cresceu ouvindo histórias de trancoso, lendo folheto de cordel, escutando repentistas pelo rádio e vendo emboladores na Praça da Independência e no Mercado de São José, aqui no Recife. .Em 1984 publicou o seu primeiro cordel: Recife – Carnaval, Frevo e Passo. De lá pra cá foram com mais de cinqüenta folhetos jogados na praça, palestras, oficinas e recitais, neste crescente e prazeroso compromisso de divulgar a poesia nordestina. José Honório foi um dos primeiros cordelistas a utilizar o computador a serviço do cordel. Primeiro para a impressão dos folhetos, depois para divulgá-lo através da Internet. Em 2005 foi a Suíça fazer palestras para brasileiros e admiradores da cultura brasileira. Também foi a Genebra, Lousane, Zurich, Basel e Locarno. É fundador e atual Presidente da União dos Cordelistas de Pernambuco – Unicordel. É bancário e formado em Turismo.  

HOMENAGEADOS:

O principal homenageado deste evento será o Ilustre Brasileiro Acadêmico Ariano Suassuna, com a medalha LEANDRO GOMES DE BARROS, maior comenda da Instituição, pela sua obra e sua importância no universo da cultura popular brasileira, especialmente e destacadamente a Literatura de Cordel.

Serão homenageados também, com a Medalha Rogaciano Leite, estes gigantes personagens da Cultura Popular Nordestina, os ilustres pernambucanos:

Alexandre Santos – Presidente da União Brasileira de Escritores.

Ana Cely Ferraz – Editora Coqueiro.

Xico Bizerra – Compositor e Poeta popular.

Fernando Duarte – Secretário Estadual de Cultura.

Mestre Dila – Xilogravurista.

Ivanildo Vilanova – Poeta, Violeiro e cantador.

Roberto Benjamin – Professor e Pesquisador.

Maciel Melo – Compositor e Poeta popular.

Rogério Menezes – Radialista, Violeiro e Cantador.

José Borges – Xilogravurista e Poeta.

ACADÊMICOS CONVIDADOS:

Esta Plenária contará com as presenças do Presidente e do Diretor Cultural da Instituição, Poetas Gonçalo Ferreira da Silva e Chico Salles respectivamente, alem dos demais membros da ABLC, notadamente os Acadêmicos residentes no Nordeste: Crispiniano Neto, Klévisson Viana, Josenir Lacerda, Sávio Pinheiro, Gilmar Santana Ferreira, Arievaldo Viana, Manoel Monteiro, Severino Sertanejo, João Firmino Cabral, Bule Bule, José Maria de Fortaleza, Beto Brito, Antonio Francisco de Melo, João Dantas, José Walter Pires, e Pedro Costa. Estarão presentes, também à comitiva com Acadêmicos do Rio de janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Destacando-se aí os Poetas: Mestre Azulão, Moreira de Acopiara, Cícero Pedro de Assis, Antonio Araújo Campinense, Maria de Lourdes Aragão Catunda, João Batista de Melo, Maria Rosário Pinto, Fernando Silva Assumpção, Sepalo Campelo, William J.G. Pinto, Marcus Lucenna, Fábio Sombra, Ivamberto Albuquerque Oliveira, Sergival Silva, Victor Alvin Garcia, e Olegário Alfredo.

A expectativa da Direção da ABLC, para esta terceira Plenária anual a se realizar fora da sua sede no Rio de Janeiro, é de total sucesso, devido à experiência das Plenárias de 2009 e 2010, realizadas em Fortaleza – CE e João Pessoa – PB respectivamente. Pretende-se também, tornar parte das suas Plenárias anuais, itinerante realizando-as de maneira rotativa em outros estados, notadamente nos estados que tenham parte do seu quadro Acadêmico residente, e nos estados que ofereçam apoio e infra-estrutura indispensáveis para a realização do evento.

O evento será realizado para o Corpo Acadêmico presente e seus convidados. Será também aberto ao público, que receberá senha 30 min antes do início da Plenária. ENTRADA FRANCA.

domingo, 2 de outubro de 2011

CAJU


Por Dalinha Catunda

*
O caju da minha terra
Sempre encanta meu olhar.
Quando é tempo de fartura
Eu corro para apanhar.
Debaixo do cajueiro
Nem preciso de dinheiro
Quando quero me fartar.
*
Colorido e bem gostoso
É de chamar atenção.
Se o suco é refrescante
O doce é uma paixão.
Degustado ao natural
Tem um gosto especial,
Tem o sabor do sertão.
*
Com uma cachaça das boas,
Nas bodegas do sertão,
Fatiado em rodelas
É servido no balcão,
Para o cabra da peste
Que aprova o sabor agreste,
Típico de seu rincão.
*
Vermelho, bem amarelo,
E também alaranjado
Eu não dispenso um caju
Aqui em meu condado.
Minha alegria é tamanha
Se o tira-gosto é castanha,
No bom bocado ofertado.

Fonte: Blog Cordel de Saia

www.cordeldesaia.blogspot.com

Texto e foto de Dalinha Catunda

Alagoanos conseguem sobreviver usando a literatura de cordel para disseminar a cultura

Como afirmou o poeta Carlos Drummond Andrade: “A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro”. Os cordelistas costumam contar histórias de vida e fatos do cotidiano, geralmente não possuem escolaridade, mas têm uma sabedoria e memória invejáveis. Essas são características da literatura de cordel, que teve sua origem no Renascimento, com os relatos dos trovadores.

Os folhetos eram pendurados em cordões para que fossem comercializados, por isso, a cultura ganhou o nome de cordel e virou marca no Nordeste do Brasil. Mesmo com pouco incentivo, em Alagoas vários poetas sobrevivem da literatura de cordel, fazendo criticas ao sistema político e exaltando a figura do sertanejo, com uma linguagem popular, cheia de humor e sabedoria.

O poeta Jorge Calheiros, 74, começou a escrever literatura de cordel há 37 anos. Hoje, ele possui 89 edições publicadas e com uma memória surpreendente, desse número ele sabe 55 versos de cor. É o poeta que tem mais livros publicados nos Estado. “Quando eu era criança não tive o direito de ir para a escola, eu morava no interior, em Pilar e meus pais compravam o que chamavam de livro de histórias. Quem sabia ler naquele tempo era doutor, então tinha uma pessoa que lia o livro para 30 ou 40 pessoas, e foi assim que comecei a me interessar”, lembrou.

Calheiros fala que começou a escrever cordel em Alagoas, mas o incentivo era muito pouco. “Eu fui um dos primeiros a trazer para a televisão de Maceió a literatura de cordel, no rádio já se ouvia falar, mas na TV não. Agora as pessoas estão conhecendo o potencial de cordelistas que Alagoas tem”, contou.

O primeiro livro que ele escreveu foi batizado de “Meu querido São Francisco”, onde ele narra histórias sobre o Velho Chico e o último foi uma história bem humorada intitulada “Gastei todo meu dinheiro”. Calheiros diz que esse reconhecimento veio há pouco tempo e cita alguns artistas da Terra como o poeta Demes Santana.

“Eu, por exemplo, já tive um bom reconhecimento pelo Estado, o governador Teotônio Vilela e o secretário de cultura, Osvaldo Viegas engrandeceram a cultura, eu e outros cordelistas fomos homenageados como patrimônio vivo de Alagoas. Nós recebemos uma bolsa do Estado todo mês, é um incentivo para que a literatura tenha mais progresso”, frisou.

Jorge fala então da vontade de incentivar as crianças a aprender a cultura do cordel. “Eu gostaria que esses livros chegassem às mãos das crianças que estudam na rede pública, sem que elas precisassem comprar, seria muito bom para o aprendizado desse estudantes”, afirmou.

A vontade do poeta era de criar uma escola para ensinar a arte do cordel às próximas gerações. “Não quero deixar que isso morra comigo, na minha família não tem ninguém que tenha vocação para a literatura”, destacou.

Antigamente, com a ausência dos meios de comunicação, principalmente nos lugares mais afastados, a literatura se transformou em um informativo. “O cordel era o jornal do dia, qualquer notícia era dada por ele, no interior não existia outra forma de comunicação”, explicou Jorge.

Segundo o poeta, como forma de propagar os poemas o cantor escrevia e ele mesmo ia para a feira e ensinava a música ao ouvinte. “O violeiro que cantava cordel tinha que ter decorada uma parte do texto, para que o povo ficasse ansioso em ver o resto da história e comprasse o livro”, contou.

Jorge ainda fala que hoje consegue viver da literatura de cordel. “Na posição que estou dá pra viver tranquilo meus cordeis estão sendo considerados os melhores do Estado e eu me considero feliz por não ter ido à escola e mesmo assim, conseguir fazer esse tipo de literatura que tem agradado tanto os alagoanos quanto as pessoas de todo país”.

Um dos livros de Jorge Calheiros intitulado “O matuto Zé Cará” virou um curta metragem de 15 minutos e ganhou destaque nas telonas, com a direção de Tato Sales. O filme é narrado por Jorge e mostra o povo e o futebol de Coruripe na visão de um pescador. “O filme está sendo bem vendido nas bancas da cidade e no museu Théo Brandão”, frisou o poeta.

Jorge Calheiros fala de um livro intitulado “O encontro de tranqueiro com São Pedro lá no céu” que conta a história política do Brasil. “Eu pesquisei e contei a história todinha, ganhei um prêmio de R$ 10 mil em Minas Gerais, foi a melhor critica e aqui m Alagoas não ganhei nada”, lamentou.

Ele ainda acrescenta que tem um estilo próprio até para fazer as xilogravuras- os desenhos que compõem seus poemas. “ Eu procurei uma capa própria e fiz com que os leitores se interessassem mais pelo conteúdo, tem muitos cordeis sendo vendidos por aí que o povo é influenciado pela capa e não possui conteúdo e isso vale para qualquer outro livro”, disse ele.

Maria José de Oliveira, mais conhecida como Mariquinha, começou lendo cordel para os avós, no município de Coqueiro Seco. Sempre procurou inspiração na natureza e seu primeiro cordel foi “O Progresso e a decadência”, que ela fez sobre o aterro da Lagoa Mundaú. “Minha inspiração nasceu a partir do sururu”, contou.

Hoje com 31 publicações, Mariquinha fala que queria ser enfermeira, mas ao entrar em uma escola técnica de enfermagem teve seu primeiro ataque epiléptico e não pode mais fazer o curso. “Mas continuei fazendo meus versos”, disse.

Mariquinha relembra que ganhou um emprego em consequêcia de um verso que escreveu para o presidente João Batista Figueiredo, que veio visitar Alagoas e estava no palácio dos Martírios. “ Nos anos de 1972 a 1982 eu vivia procurando emprego, no dia 02 de julho de 1982 falei com Figueiredo e ele pediu pra eu escrever uma carta, eu fiz em três minutos, então eu consegui um emprego”, relembrou.

Ela ainda conta que em 1998 escreveu uma carta em verso e mandou para o Jô Soares, mas só veio ser atendida em junho de 2000. “A entrevista no Jô foi ótima, depois da entrevista fui mais reconhecida, antes do Jô ninguém me ajudava. Meu trabalho se tornou mais valorizado, passei a vender mais, ser chamada para palestras”, declarou.

Ao ser questionada sobre os incentivos do governo para perpetuar a cultura, a poetisa é incisiva: “O governo do Estado não incentiva, tem pouquíssimo investimento. É um sacrifício, mas mesmo assim eu consigo sobreviver da literatura”, reclamou.

Em 1992 quando o Papa João Paulo II esteve em Maceió, Mariquinha entregou um livro e algum tempo depois, recebeu uma carta dele. Mariquinha também conta que em meio às suas aventuras participou do quadro se vira nos 30, do Domigão do Faustão. “Eu cantei uma música do Jorge de Altinho em 30 segundos e fiquei em segundo lugar. Abriram as inscrições do Se vira nos 30 novamente e eu já me inscrevi”, colocou.

Ela conclui, “Vou lançar mais cinco livros e tem um que é sobre a história do Papa João Paulo II. Mariquinha sempre expõe na Feira do Livro que é realizada no Centro de Convenções e realiza muitas palestras em escolas.

Mais um poeta atuante no cenário da literatura de cordel em Alagoas é Demes Santana, de 44 anos, que começou a escrever cordel quando morava na Bahia em 1997.

“Onde eu morava existia um pessoal que trabalhava com desenvolvimento sustentável, ele faziam um programa da saúde da mulher, mas os homens não se interessavam e para atrair mais gente para as palestras me chamaram e eu fiz um cordel sobre o assunto e isso atraiu a comunidade”, relembra o poeta.

Demer ainda explica que seu trabalho é focado na oralidade. “Apesar de usar mais a palavra, tenho cinco ou seis livros impressos e muita publicação virtual”, contou.

Ele fala também das dificuldades que existem para sobreviver da literatura em Alagoas e que nos outros estados como Sergipe e Pernambuco existe mais apoio. “A palavra certa é sobreviver e não viver e para isso eu preciso matar um leão por dia”, brincou.

Demes conta que se apresenta sempre em encontros de educação e feiras de negócios e afirma que a receptividade das pessoas é a melhor possível. “Todo mundo fica encantado e quer saber mais sobre a cultura”.

Fonte: http://giro101.cadaminuto.com.br