CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



segunda-feira, 25 de abril de 2011

CORDÉIS ENCANTADOS

Francisco José da Silva - Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC)
filosofranz@yahoo.com.br

Fonte: O Povo Online: opovo.com.br

          O cordel há algum tempo foi considerado como literatura inferior ou mesmo visto como coisa exótica, semelhante ao que se tem feito com as demais manifestações do folclore brasileiro, porém agora alcança um patamar não antes galgado ao se tornar objeto das mais diversas manifestações culturais.

          Atualmente o cordel deixou de ser exclusividade do Nordeste ou das feiras nos interiores, tornando-se um instrumento privilegiado de transmissão de cultura nas edições recentes que têm resgatado os clássicos da literatura nacional e regional na perspectiva da literatura popular, além da simbiose do cordel com o desenho, com os quadrinhos e com as mais diversas manifestações contemporâneas e urbanas, tais como a TV, o cinema e a Internet.

          Vemos o cordel agora invadindo os mais diversos espaços, sejam populares ou eruditos, ganhando aceitação e respeito dos mais diversos produtores culturais e pesquisadores, surge então uma nova modalidade de cordel, mais diversificado, mais dinâmico, com uma nova estética, o que não é nenhuma desvantagem para o mesmo, uma vez que o cordel sempre soube ser reinventado nas mãos dos poetas cordelistas, desde Leandro Gomes de Barros até Azulão, Manoel Monteiro e Rouxinol do Rinaré.

          Faz-se necessário que os pesquisadores reencontrem no cordel aqueles elementos que tem constituído nossa identidade cultural, agora não mais apenas nordestina, mas brasileira em sua essência.

          As raízes do cordel se encontram na literatura popular europeia medieval, nos trovadores, nos escritores dos pequenos livretos (Büchlein, na Alemanha) da literatura de Colportage, etc. Nesse sentido ao ser transposto para o Brasil colonial (um pouco medieval) pelos portugueses, o cordel (de português ‘cordão’ como pensam alguns, ou do latim ‘cordis’, ‘coração’ como pensam outros) adquiriu uma feição totalmente nova, mas carregando os elementos constituintes de sua origem medieval.

          Os temas (reis, rainhas, princesas, cavaleiros e dragões), o estilo (aventuras, comedias, romances), a forma (sextetos, septilhas, etc), misturados com os elementos da cultura nordestina (os beatos, cangaceiros, coronéis) tornou-se um veio incessante que recria nossa cultura em todas as suas dimensões.

          Por essas razões, o cordel torna-se atemporal, pois sobrevive as modas e manias do mundo dinâmico e inquieto de hoje, mas é ao mesmo tempo fincado na realidade histórica e cultural que o produziu.

          Por isso podemos dizer que o cordel é de todas as nossas manifestações populares a mais versátil nos dias atuais. Que as futuras gerações possam aproveitar e valorizar ainda mais essa manifestação cultural autenticamente nossa.

 

Imagem: bazardaboaleitura.blogspot.com

2 comentários:

  1. Obrigado pela divulgação. Só corrigindo o e-mail: filosofranz@yahoo.com.br

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  2. Caro Francisco eu respondo
    "De nada" ao seu 'obrigado'.
    Tudo o q é bom, meu amigo
    É para ser divulgado.

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