CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



sexta-feira, 30 de abril de 2010

CANÇÃO "RANCHO SEM PORTA" - "OS NONATOS"

(Meus amigos quero dedicar esta canção aos momentos vividos na casinha do outro lado do açude Frutuoso II no sítio Lages e a todos os sítios aonde ainda possamos encontrar simplicidade.)

CANÇÃO "RANCHO SEM PORTA" - "OS NONATOS"
(para ouvir cliq no 1° botão da esq. p/ direita)

Composição: Raimundo Nonato e Nonato Costa

De volta ao passado
Não tem quem me mande
O quem enche os olhos
Não me enche o bucho
Eu não me deslumbro
Com carros de luxo
Me sinto pequeno
Na cidade grande
Na rua eu me estresso no campo eu relaxo
Plantando e colhendo pescando em riacho
O rancho é humilde mas a terra é nossa
No subúrbio triste eu não vejo graça
Passo o dia em casa olhando quem passa
Inalo fuligem respiro fumaça
Isso não é vida pra quem é da roça

Eu ainda quero ver as matas virgens
Andar pelas trilhas e ouvir cachoeiras
Folhear cordel no meio das feiras
Sem romper os laços com minhas origens

Não sou assassino
Pra ver tanta grade
Na casa onde moro
Pra ter segurança
Por estas e outras
Eu sinto saudade
Do rancho sem porta
Onde eu fui criança

De todos os erros que eu já cometi
O pior de tudo foi mudar pr’aqui
Perdendo o costume dos costumes meus
Como os edifícios que interditam vias
Aqui as pessoas são duras e frias
E nesse corre-corre do todos os dias
O dinheiro é posto no lugar de Deus

Eu ainda quero ver as matas virgens
Andar pelas trilhas e ouvir cachoeiras
Folhear cordel no meio das feiras
Sem romper os laços com minhas origens

Eu fui Incubado
No berço da flora
Tenho parentesco
Com o povo nativo
Hoje como um peixe
Fora d’água vivo
Meu mundo está dentro
Do mundo lá fora

Aquele é que é canto aquela é que é vida
Sem droga encontrada sem bala perdida
O povo é feliz e com razão de ser
Eu dou minha alma se Deus der um jeito
Pra que se refaça meu sonho desfeito
Lá se eu viver tudo que tiver direito
Antes de mil anos não dá pra viver.

Eu ainda quero ver as matas virgens

Andar pelas trilhas e ouvir cachoeiras
Folhear cordel no meio das feiras
Sem romper os laços com minhas origens

 Fonte Letra: http://letras.terra.com.br/os-nonatos/1143148/

quinta-feira, 29 de abril de 2010

EDITAL PRÊMIO MAIS CULTURA DE LITERATURA DE CORDEL (Notícias, até que enfim)

( ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM DÁ NOTÍCIAS!!!)


Notícias do Mais Cultura
Fonte: site do MINC

Literatura de Cordel

Edital da primeira edição da premiação será publicado no mês de maio




        O Edital Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré será publicado no mês de maio. Inicialmente, estava previsto que o concurso, anunciado em março pelo Ministério da Cultura, durante a II Conferência Nacional da Cultura, receberia inscrições até o dia 26 de abril.Serão contempladas 200 iniciativas culturais vinculadas à criação e produção, pesquisa, formação e difusão da Literatura de Cordel e linguagens afins, como a Xilogravura, o Repente, o Coco e a Embolada.
      Em breve, as informações sobre a seleção pública - que contará com recursos de R$ 3 milhões - estarão disponíveis no site do Ministério da Cultura, no link Editais, e na página eletrônica do Programa Mais Cultura.

Informações à imprensa: (61) 2024-2628/30.

(Neila Baldi, Ascom DLLL SAI/MinC)

Imagem:http://mais.cultura.gov.br/2010/04/28/literatura-de-cordel/

segunda-feira, 26 de abril de 2010

MANOEL MONTEIRO E O NOVO CORDEL - (Entrevista)



 MANOEL MONTEIRO - O Maior Expoente do Novo Cordel

Por  Rubenio Marcelo · Campo Grande, MS
:

RUBENIO MARCELO — Manoel, Inicialmente, eu gostaria de saber de você qual a importância do Novo Cordel na atualidade.

MANOEL MONTEIRO — Rubenio, o Novo Cordel de que eu falo é o cordel atual, o cordel do século XXI, este que está sendo utilizado, com eficiência, pelos professores nas salas de aula. O cordel, no momento, está em uma evidência muito maior do que nos seus ditos tempos áureos e pioneiros. Isto é verdade. Pode escrever. Eu conheço a história do cordel desde muito tempo, e convivendo com ele, nas feiras do Nordeste, desde 1951. Meu primeiro cordel foi publicado aqui em Campina Grande em 1953. Eu já vinha, há uns dois ou três anos, trabalhando com folhetos de feira em feira. Foi assim que eu saí de casa. As minhas asas para levantar vôo do ninho paterno foram os folhetos de cordel. E tão bem coladas foram estas asas, que ainda hoje eu continuo voando... Estas minhas asas foram e são, assim, muito mais firmes do que as (de penas) que puseram em Ícaro, pois quando este se aproximou do Sol, as suas asas caíram. Pois bem! Como afirmei, o cordel, hoje, está em evidência. Se o cordel de ontem era consumido (era absorvido) basicamente por gente simples e de pouca cultura, um público da periferia, das fazendas, das cidades pequenas do interior, dos mercados, das feiras livres (porque aonde ia o sertanejo, ia a sua mala repleta de saudades e de folhetos), hoje o cordel é consumido também nas escolas brasileiras; é valorizado nas instituições escolares de todos os graus, inclusive sendo enfocado por mestres e doutores nas suas teses acadêmicas. Então, o cordel hoje está em alta evidência e eu sei por que ele está com este prestígio...

RUBENIO MARCELO — Por que, então, Manoel, que o cordel está com este prestígio que você acaba de nos reportar?

MANOEL MONTEIRO — ... Porque os autores de hoje estão fazendo um trabalho diferenciado. Hoje, há cordelistas que possuem cursos superiores e especializações. Cordelistas que conhecem todo o Brasil e até países do exterior. Então, a vivência destes homens (que trazem na bagagem, antes da formação superior, uma cultura de massa, uma natural convivência com o povo), capacita-os a participar – por exemplo – de conferências, cursos e palestras para universitários em qualquer faculdade ou universidade brasileira. O que não acontecia ontem. Se o Novo Cordel está com toda esta evidência, é porque hoje os seus autores estão inserindo esta literatura nas escolas, nas salas de aula, e ministrando também interessantes palestras e conferências acerca do assunto... Atualmente, o campo, o auditório, o público do cordelista é diferente. E o cordelista também é diferente. Então, esta qualidade do novo cordelista faz o Novo Cordel; faz com que o texto do cordel seja estudado e utilizado, inclusive no aprendizado da nossa Língua Portuguesa. Neste sentido, nós temos trabalhos de alta classe, como – por exemplo – o de Moreira de Acopiara (em São Paulo), Klévisson Viana (no Ceará), Geraldo Amâncio (grande repentista cearense), Janduí Dantas (com a sua Gramática em Cordel, que é admirável), o José Maria de Fortaleza (que também trabalha muito bem com a literatura de cordel nas escolas), apenas pra citar alguns (claro que temos outros nomes). Todos são trabalhos simples, humildes na aparência, mas grandiosos na penetração, na originalidade, no convencimento, na maneira de transformar o difícil em fácil, porque a vantagem da informação feita através do cordel é que ela é compreensível, em virtude de esta poesia ser fecunda e sonora. E esta particularidade do texto poético faz com que qualquer informação, veiculada através dela, seja de fácil apreensão e de agradável consumo.

RUBENIO MARCELO — Quais as dificuldades e obstáculos que esta arte maravilhosa – o Cordel – está enfrentando nos nossos dias? E o que deve balizar a criação do Novo Cordel?

MANOEL MONTEIRO — Eu diria que os obstáculos são aqueles naturais a toda qualidade de impresso. Especialmente os livros. Ora, eu me lembro, e aproveito a ocasião para repetir, o que disse, certa vez na Feira de Remígio, o escritor Cristino Pimentel: — “Vender livros no Brasil é carregar a cruz de Cristo, vinte e quatro horas, durante toda a vida”. Isto sintetiza a dificuldade das pessoas que vivem das suas obras literárias. Aqui mesmo, nesta sala, onde estamos agora, um pessoal da imprensa me perguntou o seguinte: “... Se nós estávamos tendo ajuda governamental... Se nós tínhamos facilidade de publicar os nossos trabalhos... E como que o governo olha os nossos artistas...”. E eu respondi (e esta é a minha posição): — O artista precisa, mas não deve se submeter ao beneplácito dos governantes, ficar esperando por isto, porque isto pode implicar numa certa subserviência, mesmo que instintiva. A independência para o artista é fundamental. Eu dizia e digo que: – Se uma pessoa, um artista, fizer um bom trabalho, ele há de ser reconhecido. O que interessa é que este artista prime pela sua obra. Procure fazer um trabalho de classe. Para isto, ele às vezes necessita de proceder a uma busca, realizar uma pesquisa, para ilustrar o seu conhecimento. Quem está escrevendo, quem vive de escrever, como é o nosso caso, é preciso cuidar, analisar o que publica e buscar aprimorar sempre a sua criação. E eu sou partidário da condição de que o poeta tenha um pouco de trabalho (em prol do aperfeiçoamento) para compor a sua obra, visto que este material ficará registrado para sempre, passando – às vezes – por várias mãos (leitores diversificados). Digo isto porque fizeram comigo, um dia desses, uma dessas surpresas maravilhosas: eu estava aqui e chegou o professor Daniel Duarte (homem que gosta de publicações e livros raros), que é do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano, e me mostrou um monte de folhetos antigos que ele adquirira numa dessas feiras do interior. Então, eu passando alguns (uns eu conhecia e outros não...), e o que é que eu encontro... Eu encontrei um folheto que eu havia publicado aqui em Campina Grande em 1957. E deste folheto eu só me lembrava do título: “O Crime da Sombra Misteriosa”, e nem me lembrava mais de como eu tinha criado, inventado e conduzido a história, como havia desenvolvido o enredo. Mas onde eu iria encontrar aquilo? Então me chega aqui o Daniel com um exemplar deste folheto, que fora manuseado por mãos diversas, por mais de cinqüenta anos, passado certamente de pai para filho. Então eu pude perceber, mais uma vez, que quem escreve tem que pensar bem no que vai registrar, tem que analisar com cautela a formação do seu pensamento e da sua obra, para não documentar besteiras, que assim ficarão por muito tempo. Portanto, temos que pensar sempre em legar ao futuro alguma coisa consistente e efetivamente útil. Poesia são fragmentos de luz... São relances... São fagulhas de beleza e de graça... E o poeta tem a obrigação de procurar isto. Uns têm mais facilidade... São mais queridos pela musa. Outros possuem certas dificuldades... Eu, por mim, digo: a cada dia que passa, mais dificuldades eu encontro para escrever os meus textos, porque eu não quero me repetir; eu não quero dizer aquilo que eu já disse... E é muito difícil um homem de mais de setenta anos, como é o meu caso, ficar dizendo coisas novas... (risos)... Quase tudo que eu vou dizer alguém já disse, ou eu mesmo já expressei anteriormente. Mas esta busca é uma necessidade. Nós temos que buscar novas flores e fragrâncias. Num jardim por onde você anda todo dia, onde você já beijou todas as rosas, você tem que buscar uma de nuança diferente. Que tenha alguma graça diferenciada daquela que você contemplou no dia anterior. Esta é a dificuldade e o desafio do poeta.

RUBENIO MARCELO — Manoel, você – que é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – poderia nos dizer se esta Entidade (a ABLC) tem realizado atividades voltadas para a valorização e para a divulgação da arte do cordel?

MANOEL MONTEIRO — Sim. Digo, com sinceridade, que a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que tem a sua sede localizada no Rio de Janeiro (no bairro de Santa Teresa), é uma das chaves que têm aberto as portas de muitas instituições e entidades importantes no Brasil (e no mundo) para o cordel brasileiro, para este tipo de literatura impressa e expressa em versos. O cearense Gonçalo Ferreira da Silva – o presidente atual da ABLC – é um homem de cultura, possui curso superior, mas é, sobretudo, um poeta nato. Possui dom natural e sensibilidade. A Academia é muito importante. E muita gente tem me abordado sobre ela. Algumas pessoas até me questionam por que esta Academia não é estabelecida no Nordeste, uma vez que – segundo pensam – poesia popular é coisa de nordestino. E eu respondo: Poesia popular não é arte somente de nordestino. Poesia popular é arte do mundo e para o mundo. Os versos populares da literatura de cordel vêm – eu diria – das cavernas. Sim... Eu penso que a primeira poesia popular nasceu, lá numa primitiva caverna, com um troglodita, que – querendo conquistar uma formosa companheira – deixou de emitir aquele ruído agressivo e fez um ruído sonoro, flertou a trogloditazinha de uma maneira poética, agradável, musical, e aí nasceu a primeira poesia, o primeiro texto poético. A poesia é um sentimento especial; é a expressão de um assunto qualquer com a graça e a beleza e a ternura de um texto em versos. Então... Quando a poesia popular (na forma como estamos nos referindo: o cordel) vivia apenas de feira em feira, ela realmente tinha uma limitação de público, é verdade. Mas quando São Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, começaram a absorver mão-de-obra dos outros estados, e também do Norte e do Nordeste, aí a poesia popular disseminou-se; o cordel ganhou as sendas do Brasil. O Ciclo da Borracha e a construção de Brasília também são eventos que colaboraram para esta universalização da poesia popular, que era, no princípio, um pouco restrita, realmente, ao Nordeste brasileiro. Cordel, literatura popular, hoje, é coisa do mundo. Poesia Popular é nada mais, nada menos, do que uma poesia bem escrita e que atinge a maioria das pessoas, porque ela é compreensível, ela é envolvente e boa de ser assimilada. Poesia popular é – por exemplo – o que encontramos nos versos de Leandro Gomes de Barros, versos escritos há cerca de cem anos e que compõem agora, por três anos seguidos, o programa do vestibular da Universidade Estadual da Paraíba. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel tem estabelecido importantes contatos com entidades culturais e instituições do mundo, e esta abertura para os novos meios – mostrando a importância, o real valor da poesia popular – faz com que a literatura de cordel ganhe evidência e amplo destaque nos nossos dias.

RUBENIO MARCELO — E os meios de comunicação de massa, por exemplo, a TV, o rádio, o jornal e, principalmente, a Internet, têm contribuído de forma efetiva para o prestígio e esta evidência do cordel (que você se refere)?

MANOEL MONTEIRO — Estes meios de comunicação têm contribuído, e muito. O cordel, hoje, fala a linguagem do Século XXI. E a mídia, toda a imprensa que precisa de notícia, está vendo aí a importância e a influência do cordel, este expoente de arte que está sendo inclusive (como já afirmei) estudado e enfocado – com destaque – em teses e monografias de mestrado e doutorado. Então, quando as universidades estão interessadas em algo, a imprensa – que é inteligente – também está. E isto tem favorecido deveras a valorização merecida da nossa literatura de cordel. A poesia em geral, hoje, é para ser veiculada também pela Internet e por todos os meios mais modernos de comunicação.

RUBENIO MARCELO — Manoel Monteiro, o que é ser cordelista?

MANOEL MONTEIRO — Ser cordelista é sonhar... E sonhar vinte e quatro horas por dia, porque a poesia popular é um exercício mental maravilhoso e muito gratificante. O poeta olha o vôo de um pássaro, analisa seus movimentos, diferentemente de um físico, por exemplo. Ser poeta cordelista é brincar com o lúdico, é querer copiar estrelas (e isto é possível?)... Então, repito, ser poeta [para mim] é viver sonhando, e é muito bom viver assim, porque a realidade do cotidiano é muito ríspida, é muito vazia. A poesia, às vezes, faz chorar, mas choramos de uma maneira diferente, porque choramos com a fecundação da alma...

RUBENIO MARCELO — Eu gostaria que você nos explicasse como é que nasce a sua inspiração para escrever os seus trabalhos de cordel.

MANOEL MONTEIRO — Primeiro, vem da minha vivência. O meu grande livro é a vida. Os meus cordéis são compostos, principalmente, embasados nas minhas experiências de vida, mas também - quando necessito - realizo um pouco de pesquisa. Quando eu vou escrever sobre um determinado assunto, às vezes temas requisitados, eu procuro me inteirar o máximo possível sobre aquela matéria. Contudo, a criação, no meu ponto-de-vista, deve ser a mais solitária possível. Na gestação do texto, o poeta deve-se voltar para o interior, para o seu interior, para os seus sentimentos, suas lembranças mais recônditas. É preciso mergulhar no desconhecido em busca do belo. Isto parece tão subjetivo, este meu raciocínio, mas é assim que estou conseguindo dizer como é o meu processo de criação. Eu não tenho um folheto pronto. Eu não sei nem como ele terá fim. E eu não sei nem se ele vai terminar. Às vezes eu busco uma palavra, eu quero uma palavra de determinado tamanho, eu necessito de uma palavra de determinada cor ou aspecto e ela não me aparece. Não adianta fazer por fazer... Só rimar é fácil (quando o som não arranha o ouvido, temos a rima). Metrificar, outrossim, não é difícil: a métrica pode ser aperfeiçoada pelo costume e a prática. Mas isto é muito pouco para a elaboração um bom poema. Faltam os desígnios da oração, que é o sentido, e principalmente a essência, que é a beleza. Então, o meu processo de criação é uma busca (e é dolorida)... Por isso quando eu trabalho algum folheto de encomenda (e eu faço, principalmente se o assunto for um desafio), eu preciso me inteirar, conhecer, falar com especialistas daquele assunto... Mas eu digo para as pessoas que encomendam: – Em não garanto nada. Não garanto que vai prestar... O futuro é que vai dizer... Eu vou tentar fazer, mas se eu não conseguir, paciência... O que é certo é que, somente pelo fato de eu conhecer os aspectos da rima e da métrica, não terei jamais a garantia da criação de uma bom texto poético. Preciso de algo mais, preciso daquilo que transcende...

RUBENIO MARCELO — Para encerrarmos, eu gostaria que você expressasse algumas palavras dirigidas àquelas pessoas que estão se iniciando na arte do cordel, ou que estão se interessando, de alguma forma, pela poesia popular.

MANOEL MONTEIRO – Parabenizo os que estão iniciando. É preciso que as pessoas expressem o que sentem. E, para isto, o melhor canal, o veículo mais democrático é a poesia. É preciso escrever e divulgar o trabalho. Mas é preciso procurar escrever com responsabilidade e desvelo (e também com racional autocrítica). No momento, a poesia está ganhando muitos adeptos em todo o mundo. Mas escrever poesia não é para todo mundo: só faz poesia quem é poeta; e só concebe a boa poesia quem é bom poeta. A real inspiração é uma coisa deveras etérea; muito sublime; não fácil de ser alcançada. A busca eterna pelo belo é uma das missões do poeta, e eu felicito os que estão começando a escrever, e volto a repetir: - Escrevam tudo que lhe vier ao coração, passem para o papel e divulguem, porque é desse meio, é dessa produção que sairão as grandes obras. Contudo, quero repetir mais uma vez: é preciso ter cuidado ao escrever. O que for escrito agora, assume uma responsabilidade com os leitores do futuro.

Fonte: http://www.overmundo.com.br/overblog/manoel-monteiro-e-o-novo-cordel-entrevista

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cantoria: "O Planeta Movido a Internet é Escravo da Tecnologia" - Os Nonatos

(Para ouvir clique no 1º botão da esq. p/ à dir)

Composição: Raimundo Nonato e Nonato Costa

O visor como tela de TV,
O teclado acessível como book
Pra maiúsculo ou minúsculo é Caps "Look" (Lock)
Pra mandar imprimir é Control P
Com o micro'' Sansung e LG e os programas que a Apple financia
A indústria da datilografia nunca mais vai fazer máquina Olivetti
E o planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Quem se pluga em milésimo de segundo
E se conecta ao portal e seus asseclas
Basta apenas tocar numa das teclas que o visor nos transporta a outros mundos
Desde a terra dos solos mais fecundos
Ao espaço onde o vácuo se inicia
Quem formata depois cola, copia e prende o mundo na grade de um disquete
O planeta movido a internet é escravo da tecnologia

A indústria se auto-destruindo
Descartou o compacto e LP
Veio o surto da febre do CD e DVD mal chegou e já está saindo
MD não há mais ninguém pedindo
Nu''a DAT gravar ninguém confia
Fita BASF tem pouca serventia e ninguém quer mais nem ver videocassete
E o planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Brasil SAT é mais uma criação que nos nossos vizinhos deu insônia
O Sivam espiona a Amazônia evitando que haja outro espião
É por via satélite a transmissão que não tem transmissão por outra via
Uma antena seqüestra a sintonia pra DirecTV, Sky e Net
O planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Transatlânticos no mar fazem cruzeiros
E pelos micros das multinacionais
Hoje tem conferências virtuais com os executivos estrangeiros
O email é correio sem carteiros, tanto guarda mensagem como envia
Os robôs usam chip e bateria e videogame é brinquedo de pivete
E o planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Cibernética na prática e no papel deixa os seres online e ganham IBOPE
Com Word tem Palm e laptop e ainda mais PowerPoint e Excel
É possível quem mora em Israel pelo Messenger teclar com a Bahia
Se os autômatos ganharem rebeldia tenho medo que a máquina nos delete
O planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Pra prever terremotos e tufões os sismógrafos têm números numa escala
E o trem-bala é veloz como uma bala numa linha arrastando dez vagões
No Japão e na China as construções já suportam tremor e ventania
Torre, ponte, edifício, rodovia são perfeitos do jeito da maquete
E o planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Nosso pouso na lua foi suave, um robô foi a Marte e se deu bem
Estão querendo ir ao Sol, mas o Sol tem de calor um problema muito grave
Mas a NASA não tem espaçonave que suporte essa carga de energia,
Se for feita de fibra, se desfia, e de alumínio o monstrengo se derrete
O planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Motorola trocou técnica e conselho, Nokia e Siemens galgaram patamares
Já estão fora de moda os celulares que têm câmera e visor infravermelho
Reduzindo o tamanho de aparelho, a Pantech fez mais do que devia
Que a memória de um chip não podia ser mais grossa que a lâmina de um Gillete
E o planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Hoje a Bombardier não fere as leis e a Embraer mãe de Sênecas e Tucanos
Invísivel aos radares há dois anos, já existe avião que a Sukhoi fez
É da Nasa o XA-43 que voando tem mais autonomia
Um piloto automático opera e guia o Airbus e o 747
O planeta movido a internet é escravo da tecnologia

Fontes
Músicas: http://www.goear.com
Letra: :http://letras.terra.com.br/os-nonatos/985025/
Imagem: http://www.luizberto.com/wp-content/xxll.jpg




quarta-feira, 21 de abril de 2010

CORDEL DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Vou contar para vocês

O que deixou tão contente

O nosso país inteiro,

Porém, especialmente,

Aqueles que a todo instante

São grupo tão importante:

A criança e o adolescente.

 ***

Em julho do ano noventa,

Pudemos comemorar

Que o Governo Federal

Decidiu legitimar

Como lei esse Estatuto,

Um excelente atributo

Para nos auxiliar.

  ***

Antes dos anos noventa,

Lembram bem as entidades

E toda a população

As reais dificuldades

Pra criança e adolescente,

Em especial carente

De família de verdade.

 *** 

Depois de ser sancionada

Pouca gente acreditou

Que ela fosse posta em prática,

Porém tanto se lutou!

Agora temos a lei

E então, meus amigos, sei

Que a espera terminou.

  ***

Só sabe o valor do ECA

Quem vivia a perecer

Precisando de um auxílio

Pra poder se defender.

Sem ele o grupo em questão

Não achava solução.

Não havia o que fazer.

 ***

Mas consolidar o ECA

Não foi algo fácil não.

Movimentos sociais

Lutando deram-se as mãos

E unidos à sociedade,

Defendendo tal idade,

Conseguiram essa ação.

 *** 

Por isso esse público-alvo

Tem muito a comemorar

Também todo segmento

Que lutou para alcançar.

Não só no treze de julho,

Devemos mostrar orgulho,

Em qualquer data e lugar.

  ***

Mas é ineficaz, amigos,

Se ficarmos todos sós

Tentando fazer cumpri-lo.

Temos que juntar a voz.

Sempre que alguém precisar

Deve, o ECA, apresentar

Para desatar os nós.

  ***

A seguir selecionamos

Uns artigos pra você

Ver a tão grande importância

Que o ECA veio trazer

À criança e adolescente

E a toda a nossa gente.

Bora, amigo,vamos ver?

  ***

ARTIGOS 2 E 4


Considera-se criança,

Diz o texto condutor

Da lei, a pessoa de

Uma fase inferior

A 12 anos de idade,

(Infância cuja saudade

É nosso jardim de flor.)

 ***

Este artigo se completa

Dando a seguinte verdade:

É adolescente àquele

Nos verdes anos da idade

Dos doze aos dezoito anos,

E, como seres humanos,

Têm direito à liberdade...

  ***

...Cultura e dignidade

Também esporte e lazer.

Além disso, tem direito

De em família conviver

E toda a comunidade

(Com toda amabilidade)

Deverá lhes acolher.

  ***

E é dever da família,

Governo e população

Assegurarem direito

À saúde e educação,

Alimento, moradia,

Promoção e, com harmonia,

profissionalização.

  ***

ARTIGO 16

Compreende, meu amigo,

O direito à liberdade,

Ir e voltar sem agravos,

Seja no campo ou cidade;

Brincar, ter religião,

Expressar opinião

Nos temas da sociedade.

  ***

ARTIGO 53-54

Crianças de zero a seis

Têm direito à educação,

a creches, a pré-escolas,

Pois é uma obrigação

Estatal assegurar-lhes

O cuidado e sempre dar-lhes

Essa inteira proteção.

 ***

Crianças e adolescentes,

Como instituto legal,

Ganham direito aos Ensinos

Médio e Fundamental,

Gratuito (e todo respeito

Do professor, que é sujeito

Com um papel principal).


  ARTIGO 60


Acerca da execução

De trabalho, (o que a lei diz?)

Só pode ser contemplado

Na condição de aprendiz

Por menores de 14.

(Que já podem fazer pose)

Pra esta idade é o que condiz”.

 

ARTIGO 62

Tem-se como aprendizagem

A seguinte formação:

Técnico profissional,

Segundo a legislação

(Que está exposta nas frases)

Das diretrizes e bases

Da, em vigor, educação.

 

ARTIGO 70

É dever de todo mundo

Prevenir a ocorrência

De violarem direitos

Da infância e adolescência.

(Já que em nossa sociedade

Com tamanha falsidade

Encontramos tal tendência.)

 

ARTIGO 74

Fica a cargo do poder

Público tal empreitada

De regular espetáculos

E, assim, manter informada

(Sem qualquer um retrocesso)

A faixa etária de acesso,

Ou seja, a idade adequada.

 

ARTIGO 75

Só poderão ingressar

E manter-se nos locais

De exibição de espetáculos

Acompanhados dos pais

Ou dos responsáveis sanos,

As crianças de 10 anos

E, a seguir, temos mais.

 

ARTIGO 76

As emissoras de rádio

E de teledifusão,

Nos horários reservados

Para o público em questão,

Só exibirão programas

Que tragam bons panoramas

Para sua formação.

 

ARTIGOS 81 E 82


Armas, munições e fogos,

Explosivos e bebidas?

À criança e adolescente

Têm a venda proibida!

Assim como a hospedagem

Só com os pais ‘na bagagem’

Em toda e qualquer guarida.


ARTIGO 98


Se os direitos nesta lei,

Reconhecidos citados,

Padecerem ameaças

Ou se forem violados,

Os meios de proteção

Com certeza deverão

Logo serem acionados

 *** 

Por ação, por omissão

Da sociedade ou do Estado;

Ou daqueles a quem foi

Este grupo confiado;

Ou em razão da conduta

Vinda da própria labuta

Do público-alvo citado.

 

ARTIGO 131

Há um órgão permanente

Que se destina a zelar

Pelos direitos citados

De maneira salutar.

Que age com autonomia,

Implacável todo dia:

O Conselho Tutelar.

 

ARTIGO 132

Portanto em cada cidade,

Deve, ao menos, funcionar,

Composto por cinco membros,

1 Conselho Tutelar.

Tais membros são escolhidos,

Sem auxílio dos partidos,

Pelo voto popular!

 

ARTIGO 146

O poder de autoridade

Que esta lei faz referência

É o Juizado da Infância,

Juventude e Adolescência.

A norma judiciária,

A qual não é arbitrária,

Quem dá tal proveniência.

  ***

Meus amigos, esta lei

Deverá ser entendida

Como alento que chegou

Para melhorar a vida

De criança e adolescente,

Daqueles, principalmente,

Que viviam sem saída.

  ***

Cabe a cada um de nós

Exigir seu cumprimento

Buscando as autoridades;

Intimando o parlamento,

Para que o ECA não seja

Reclames de quem verseja,

Palavra lançada ao vento.

  ***

Este cordel importante,

Amigos, termino aqui.

Quem tiver alguma dúvida,

Favor é só conferir

No Estatuto a informação

Que este simples co-irmão

Trouxe para lhes servir.

  ***

Crianças e adolescentes,

Porém devem entender

Que, além dos tantos direitos

Listados para você,

Há deveres a cumprir,

Para no amanhã surgir

Um cidadão pra valer.

 

Autor: Manoel Messias Belizario Neto

Imagem do mesmo autor

 

Texto revisado pelo autor em 24/07/2021

 

terça-feira, 20 de abril de 2010

TIRADENTES: O LADO MAIS FRACO DA CORDA


Leitor ao ler estes versos
Eu peço a sua atenção:
Não vou recontar história,
Mas trazer reflexão
Sobre os fatos ocorridos.
Com os pés firmes no chão.

Leitor você já pensou
Por que é que a inconfidência
Mineira resultou numa
Incomparável inclemência
Somente com Tiradentes
E aos outros branda ocorrência?

A história deste país 
Vez em quando é repetida.
Um dia desses mataram
Chico Mendes e Margarida
Principalmente por virem
Da classe baixa oprimida.

Pois se a pessoa é rebelde,
Porém tem nome e dinheiro.
A família vem da elite
Do Brasil e do estrangeiro
Pensam duas vezes antes
De burlar seu paradeiro.

Veja só o que aconteceu
Com o ilustre Tiradentes:
Ele estava rodeado
De um bando de inconfidentes,
Porém só restou para ele
O choro e ranger de dentes.

Portugal necessitava
Adornar seu oratório:
Sua inquisição vigente
Queria ouro no empório.
Pegou então Tiradentes
Como bode expiatório.

Condenar o Tiradentes
Foi muito cômodo ao reinado.
Responda-me ele era quem?
Um ex- alferes lascado.
Um líder pobre sem eira.
Um sem poder revoltado.

Os outros eram barões
Do dinheiro e do intelecto.
(Um a um analisaram
Construindo um retrospecto)
Só Tiradentes perdia
Diante destes aspectos.

Segue a enumeração
Dos principais conjurados.
Inconfidentes mineiros
Dentre outros destacados.
Só o Cláudio Manoel
Morreu sem ser libertado.

Tomás Antonio Gonzaga,
Domingos de Abreu Vieira.
Carlos Correa Toledo,
Francisco Antonio Oliveira.
Inácio José Peixoto.
Só a classe rica mineira.

Os padres José da Silva
E Oliveira Rolim.
O sargento-mor Luiz
Vaz de Toledo e enfim
Joaquim José da Silva
O que teve triste fim.

Dentre os que participaram
Estes se destacam mais
Por serem representantes
Das altas classes rurais,
Clérigos e militares.
Grandes intelectuais.

Dentre os inconfidentes
12 foram condenados,
Porém só o Tiradentes
Para a forca foi levado.
Se fosse das classes altas
Tinha sido libertado.

Vemos que nossa justiça
Sempre agiu de forma branda
Com quem faz parte das classes
Sociais de quem comanda.
Sobra para o indivíduo
Que em quase nada manda.

É de práxis existir
Na história um traidor.
Tiradentes não fugiu
Desta regra, meu leitor.
O nosso Judas da vez
Foi o tal Silvério Reis
Um covarde sem pudor.

Cumpriu-se assim outra práxis.
Quem pensa logo descobre:
Na história brasileira
Quase todo mártir é pobre.
Parece que no Brasil
Morrer pela mãe gentil
Não ficou pra “classe nobre”.

Mataram o Tiradentes
Pelos motivos citados.
Por todo o sempre seu nome
Deverá ser exaltado,
Porém quantos Tiradentes,
Lutando por nossa gente
Morrerão executados?

 Manoel Messias Belizario Neto

Imagem: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/novembro2006/fotosju345-online/ju345pg06a.jpg

domingo, 18 de abril de 2010

CORDEL; TRIBUTO AO ÍNDIO


Antes de nossa chegada
Como o índio era feliz!
Tinha a mãe natureza
Como suprema matriz
Da qual extraía a seiva
Necessária ao seu matiz.

A mãe natureza era
Ao extremo respeitada
Porque o índio entendia
Que sem ela ele era nada.
Neste tempo, Pindorama,
Realmente foste amada!

Não tinha poluição,
Queimadas, desmatamento.
Não havia inseticida.
Era puro, o alimento.
O globo sorria alegre
Livre do aquecimento.

O índio só extraía,
da natureza, a essência
A qual fosse necessária
À sua sobrevivência.
Tinha então com o meio
Perfeitíssima convivência.

Não tinha capitalismo
Selvagem ou domesticado.
Com união e respeito,
Todo mundo era tratado.
Cada índio tinha o seu
Espaço igual reservado.

Então chega o europeu
Com o "verdadeiro ideal"
De vida e se escandaliza
Diante do Natural.
Fareja a terra do índio
Como alvo principal.

O índio então vai cedendo
Iludido ou obrigado.
Entrega suas riquezas
Entre elas o legado
Cultural que invadido
Se torna fragilizado.

Quando o índio percebe
Deus! Já é tarde demais...
Os que se diziam amigos
Eram inimigos fatais.
Tomariam suas terras
Com covardia voraz.

Um minuto de silêncio,
Peço ao amigo leitor
Pelo massacre expedido
Que causara grito e dor.
Chamamos dizimação,
Esses atos de horror.

Sinto-me envergonhado,
Caro índio, nesse dia.
Sei que nenhuma desculpa
Vai curar a tirania
Praticada contra ti.
Teu sangue não silencia.

Mesmo assim peço perdão
Por todo o mal que te fiz.
Não é certo massacrar.
Dar vazão à cicatriz
Incurável em função
Da construção de um país.

Se for possível perdoe
Esta vã humanidade
Que se destrói dia-a-dia.
Para ela, na verdade,
O dinheiro e não a vida
Tem maior prioridade.

Percorro quinhentos anos
E ao povo índio contemplo
Na certeza de que ele é
 O mais elevado exemplo
De vida a ser perseguido
Pelo mundo em qualquer tempo.
 
Autor: Manoel Messias Belizario Neto
 
Imagem: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/Indio2.jpg