No Brasil, o cordel surgiu na segunda metade do século XIX e expandiu-se da Bahia ao Pará, antes de alcançar outros Estados. Os folhetos, vendidos nas feiras, tornaram-se a principal fonte de divertimento e informação para a população, que via neles o jornal e a enciclopédia, de maneira quase simultânea.
Os temas eram os mais variados: as aventuras de cavalaria, as narrativas de amor e sofrimento, as histórias de animais, as peripécias e diabruras de heróis, os contos maravilhosos e uma infinidade de outros, que nos chegaram pela Literatura oral da Península Ibérica e que a memória popular encarregou-se de preservar e transmitir.
Além disso, o poeta nordestino foi incorporando a esse romanceiro, fatos mais próximos do público, ocorridos em seu ambiente social: façanhas de cangaceiros, acontecimentos políticos, catástrofes, milagres e até mesmo a propaganda, com fins religiosos e comerciais.
As xilogravuras e desenhos que ilustram as capas dos folhetos são uma manifestação da criatividade do artista popular, com suas soluções plásticas sintéticas, em que se destaca o traço forte, de rude e bela expressividade.
O cordel é valorizado como expressão poética de alta significação por escritores do porte de Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Mario de Andrade, João Cabral de Melo Neto, motivando (e continua a motivar) estudos e pesquisas nas áreas de Antropologia, Folclore, Lingüística, Literatura, História, entre outras.
O Acervo de Literatura Popular em Versos da Fundação Casa de Rui Barbosa, o maior da América Latina, atualmente com mais de 9.000 folhetos de cordel foi formado a partir da década de 1960 e, dessa iniciativa resultou uma extensa bibliografia, composta de catálogos, antologias e estudos especializados. O acervo está disponível para consulta online por meio de suas referências catalográficas, que podem ser consultadas por índices, como o de autor, título, assunto, local de publicação, editora/tipografia, data, gênero literatura de cordel, na base de dados da Biblioteca.
Desse conjunto, cerca de 2.340 folhetos dos autores relacionados em poetas e cantadores estão disponíveis em versão digital, com suas versões originais e variantes. São consideradas “variantes” as edições que trazem alguma alteração do original, sejam pequenas modificações de conteúdo, na capa e contracapa ou outra autoria da mesma história e, portanto, o acróstico na última estrofe diferente.
Os poetas biografados se encontram classificados em dois grupos: poetas pioneiros e poetas da segunda geração. Do primeiro constam os poetas nascidos na segunda metade do século XIX e cujo ingresso na atividade do cordel ocorreu entre 1893 (ano em que se inicia a produção em série de folhetos) e 1930. Ao segundo grupo pertencem os poetas que nasceram no início do século XX e entraram para o universo da literatura de cordel em uma época em que a maior parte dos representantes da primeira geração já havia morrido e a rede de produção e distribuição de folhetos já estava estabelecida.
POETAS PIONEIROS (1900 – 1920/30)
Aos poetas da primeira geração, além da constituição do público e do estabelecimento das formas de produção e distribuição da literatura de cordel, coube também o papel de definir as regras do gênero criando os estilos e temas que a distinguiriam da literatura tradicional oral da qual, por sua vez, a poesia popular impressa teria tomado de empréstimo vários elementos, entre os quais a sua própria forma de transmissão cuja base oral se traduz, principalmente, na estrutura metrificada e rimada que lhe é característica. Foi essa condição de oralidade, de uma literatura feita mais para ser memorizada, cantada e fruída coletivamente do que para ser lida individualmente, que permitiu ao cordel alcançar um público cada vez mais amplo, formado, em sua maioria, por analfabetos e semi-analfabetos.
POETAS DA SEGUNDA GERAÇÃO (1920/30 em diante)
A geração que começa a ingressar no mundo da produção do cordel a partir da década de 1930 é formada por poetas que cresceram ouvindo as histórias narradas nos folhetos e decidiram reescrevê-las, inserindo-as nos seus próprios contextos. Nesse processo, que pode ser considerado de transição, antigos personagens reaparecem em novas histórias ao mesmo tempo em que inúmeros novos personagens passam a integrar a galeria de tipos da literatura de cordel. Entre esses novos personagens o de maior destaque é Getúlio Vargas que, pelo vasto número de folhetos escritos em torno de sua figura, passou a constituir, no plano da classificação da literatura de cordel, um dos seus ciclos temáticos.
Para acessar o conjunto de folhetos, acesse aqui e siga as orientações.
Pescado de: https://www.revistaprosaversoearte.com
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