Fonte: Campo Grande News
Durante décadas, a didática do ensino da leitura foi norteada por modelos teóricos tradicionais. Com isso, o ensino dessa competência linguística primava pela decodificação. Destacava-se, sobretudo, a ausência da diversidade textual. Essa situação ocorria não só nas práticas pedagógicas, como também nos Livros Didáticos [LDs]. Nos dias atuais, pode ser percebida uma nova posição em face da diversidade/ seleção textual. Contudo, nem sempre essa postura esteve presente no processo de escolarização brasileiro.
Nos anos 80, ocorrem mudanças nos parâmetros norteadores do ensino, rompendo, desse modo, com tendências mecanicistas e tecnicistas. De acordo com Albuquerque (2006), as discussões atinentes ao ensino da leitura expandiram-se consideravelmente nessa década. Essas discussões e estudos são provenientes de diversos campos de investigação, tais como: Ciências da Educação [Pedagogia], Ciências da Linguagem [Linguística], Ciências Psicológicas [Psicologia, Psicologia Cognitiva etc.], Filosofia, Sociologia etc. (ALBUQUERQUE, 2006). Tendo como pano de fundo esse contexto paradigmático, eclodem novos fundamentos teóricos, que respaldam novas estratégias de ensino.
Destaca-se, primeiro, a eclosão de uma nova concepção de leitura de cunho sociointeracionista e pragmático-enunciativa. Esta, consoante Koch & Elias (2006), assume a condição de atividade de construção/ elaboração de sentido, acompanhada de novos enfoques e estratégias de ensino. Tudo isso, pautando-se em posturas linguísticas, cognitivas, dialógicas, interativas e sociais (KOCH & ELIAS, 2006). Destaca-se, ainda, a proliferação das discussões concernentes aos Gêneros Textuais e à Diversidade Textual. É nesse contexto que se fala na utilização dos gêneros textuais como suporte didático nos processos de ensino e de aprendizagem. Esses novos paradigmas têm sido adotados não só pelos mais recentes Livros Didáticos [LDs], mas, sobretudo, pelas práticas de ensino.
Dentre os gêneros que têm ganhado um amplo espaço nas pesquisas acadêmicas, destaca-se a Literatura de Cordel. A Literatura de Cordel pode ser conceituada como uma poesia de cunho/ teor popular, construída, linguísticamente, com base na cultura da raça humana (FONSÊCA & FONSÊCA, 2008). Isto é, esse tipo de literatura tem como fio condutor as produções materiais e imateriais das espécie humana, sendo marcada ideologica e socialmente. Ao fazer isso, o Cordel desconsidera a classe social, englobando, assim, o fazer do ser humano, independentemente, das suas origens. Ou seja, essa literatura aborda as construções/ produções humanas sejam elas provenientes das camadas menos favorecidas economicamente ou das camadas abastadas da sociedade. Seus versos lançam mão de versos, métricas e rimas que abrangem diversos tipos de temáticas, tais como, histórias fictícias, lendas, mitos etc.
Algumas dessas histórias são provenientes de gerações anteriores, mas chegam aos dias atuais em função do povo e das suas memórias. No entanto, seus versos não se limitam a esse tipo de temáticas, mas também englobam aos temas de cunho social, levando para o âmbito educacional temáticas de suma importância para a formação dos discentes brasileiros (BENTES, 2004). Temáticas estas que contribuem para a inserção desses sujeitos na prática de ações de transformação social. Partindo desse pressuposto, a partir das temáticas abordadas pela Literatura de Cordel, ela contribui para a inserção dos alunos no exercício pleno da cidadania.
É nesse sentido que a utilização da Literatura de Cordel como suprorte didático nos processos de ensino e de aprendizagem, mais especificamente, na didática do ensino da leitura é algo de fundamental importância, na medida em que esta transcende a perspectiva da decodificação e da reprodução de signos. A Literatura de Cordel traz à tona uma perspectiva de múltiplos olhares, que leva o aluno a atribuir sentido e contruir significados em face do texto, atentando para as mais diversas problemáticas presentes na realidade circundante. Tudo isso contribui de forma significativa para que o discente assuma um papel ativo na construção social do conhecimento.
Referências
ALBUQUERQUE, E. B. C. . Mudanças didáticas e pedagógicas no ensino da língua portuguesa: apropriações de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
BENTES, A. C.. Linguagem: práticas de leitura e escrita. São Paulo: Global - Ação Educativa Assessoria,Pesquisa e Informação, 2004.
FONSÊCA, A. V. L. ; FONSÊCA, K. S. B. . Contribuições da literatura de cordel para o ensino da cartografia. Revista Geografia, v. 17, n. 2, Londrina, 2008.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, Vanda M. . Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
(*)Silvio Profirio da Silva é Graduando em Letras pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. Email: silvio_profirio@yahoo.com.br
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