Entre a enxada e a pena, João Gomes Sobrinho escreveu história do Nordeste
Aonde ia, João Gomes Sobrinho, aos 9 naquela época, carregava livretos de cordéis sob seu chapéu. Se encontrasse alguém alfabetizado, pedia ajuda para ler o material. Foi assim que, ao mesmo tempo em que aprendeu a ler, aprendeu a fazer poesia.
Daí para frente, foram mais de 800 cordéis publicados, nas contas de sua filha Minerva, e o reconhecimento como um dos mais tradicionais artistas do Rio Grande do Norte.
“Na região que eu morava, Lajes, tocava cantador de viola e eu ia assistir. Pois não é que eu terminei cantando também? Aprendi a cantar, fazer verso, tocar repente”, contou ele numa entrevista em 2018.
“Papai era agricultor. Eu me criei ajudando ele na agricultura, e toda vida torcendo pela poesia”, explicou Xexéu, como foi apelidado em homenagem a um passarinho cantador.
Conciliava a poesia com o trabalho na roça, em Santo Antônio, no agreste potiguar —onde morou até o fim da vida em casa construída por ele mesmo. Mas não era fácil. Em períodos de seca, a plantação era escassa, e ia trabalhar de pedreiro em outras cidades.
Mas uma recente onda de revalorização do cordel reanimou o velho poeta, que declamava seus versos de memória quando subia nos palcos —nem sequer os carregava impressos.
O preferido de Minerva, sua filha, é “Flor da Mangueira Rosa”, em que narra sua vida embaixo de um pé de manga que existia na fazenda em que nasceu. A natureza, o passado e o amor eram suas maiores inspirações.
Tocou viola e violão a vida toda. Um dia, aos 71, assistiu a uma apresentação de violino e, apaixonado pelos novos timbres, aprendeu já idoso a tocar o instrumento.
Rodou o RN e o país nos últimos anos para representar a literatura de cordel. Orgulhoso mesmo ficou em março deste ano, na publicação de “Cantos da Manhã”, livro com compilado de seus poemas.
Aposentou a enxada e a pena no dia 29, após sofrer um aneurisma. Deixa 20 filhos (dez filhos do primeiro casamento, oito do segundo e dois enteados), netos e bisnetos.
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