Por Augusto Berto
Nos últimos dias 13, 14 e 15 ocorreu o II Encontro Nordestino de Cordel em
Brasília, no Espaço cultural da Caixa Econômica. No encontro, escritores da
literatura de cordel, repentistas e outros representantes da cultura nordestina
se juntaram a autoridades governamentais para discutir o futuro do cordel e
melhores condições de trabalho para os artistas.
Em 2009, ocorreu a primeira edição do encontro nordestino em Brasília. Nele,
cordelistas entregaram ao então presidente Luís Inácio Lula da Silva uma carta
que visava o crescimento e fortalecimento da literatura de cordel e das
expressões semelhantes, como o repente no país (ver quadro abaixo). Nesta
segunda edição, os artistas voltaram a se reunir para discutir quais medidas
deram certo, e quais avanços ainda precisam alcançar.
A conquista mais importante até agora foi a aprovação da lei 12.198, que
profissionalizou escritores da literatura de cordel, violeiros improvisadores,
emboladores de coco, poetas repentistas e contadores de causos da cultura
popular. A Lei encaixou esses artistas em uma mesma categoria, mesmo que eles
atuem de diferentes formas: o repetinsta é o poeta do improviso acompanhado de
uma viola; o embolador improvisa com um pandeiro, e normalmente insulta um ou
mais emboleiros através da música; o violeiro declama um poema em companhia da
viola; o cordelista escreve e recita os versos de uma história de cordel.
O projeto de Lei esperou por 25 anos, até ser aprovado em 2010. “Agora a
pessoa pode ter a carteira assinada como repentista. É uma profissão como
qualquer outra. Cria-se a profissão que existia de fato, mas não de direito”,
afirmou o cordelista e ex-secretário de Cultura do Rio Grande do Norte,
Crispiniano Neto. Francisco Joseirton, ou Jotinha, é embolador de coco e
ratifica a importância da lei: “Antigamente, o repentista cantava e passava com
chapéu para o povo colocar dinheiro. Hoje, faz show mesmo, contratado”.
Pedro Silva
Apresentação dos emboladores de coco, Jota, Jotinha e Jotão
Neste segundo encontro, os escritores de cordel e repentistas querem alcançar novas garantias para a categoria. Direitos previdenciários e trabalhistas são as principais metas. “Tivemos reuniões com o Ministério da Previdência, mas chegaram à conclusão que os poetas já estão contemplados nos modos que já existem”, afirma Neto. Outra alternativa seriam bolsas de R$ 500 a R$ 700 para manter os artistas de cordel. Para tanto, a justificativa dos cordelistas é que eles contribuem diferenciadamente para a sociedade com cultura popular.
O outro grande projeto que já está em andamento é o reconhecimento do cordel
como patrimônio cultural e imaterial brasileiro. Luciana Borges Luz,
coordenadora de registro da sede do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural
(IPHAN), explica que para entrar nessa categoria, o objeto deve ser referência
para uma sociedade, se adaptando ao tempo para continuar existindo. Para tornar
o cordel um patrimônio brasileiro, os artistas deverão reunir vasta documentação
para convencer os analistas do IPHAN da importância daquela literatura para a
sociedade como um todo.
O reconhecimento como patrimônio cultural traria à literatura de cordel
possibilidades de investimento por meio de deduções do imposto de renda. “Quando
uma empresa ou cidadão fizesse um patrocínio para qualquer evento de cordel ou
repente, como CD’s ou livros, ele poderá deduzir integralmente aquele valor no
imposto de renda”, afirma o ex-secretário de Cultura no Rio Grande do Norte. Mas
os artistas garantem que, além do incentivo financeiro, o cordel tem que ser
levado às escolas. Nos últimos anos, a literatura de cordel entrou na lista de
livros adquiridos pelo Ministério da Educação para serem distribuídos nas
escolas em todo o Brasil. “Estamos negociando com secretários, prefeituras.
Queremos fazer uma ‘cordelteca’ em cada biblioteca pública no Brasil”, concluiu
Crispiniano Neto.
Segue abaixo a situação das metas dos cordelistas
Fonte: Campus Fac Unb |
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