Mastruz Com Leite
(Me balançando na rede
Numa taipa do Sertão.
Enquanto o Sol se escondia
Eu ouvia esta canção...
E num passeio ao passado
Me veio à recordação.
Manoel Belizario)
Recebi pelo correio
Carta de um hospital
Dizendo ser de um cliente
Que passava muito mal
O qual eu já tinha lido o
Seu nome em um jornal
Dizia: caro poeta só
Você que tem memória
Pode transformar em versos
Minha fracassada história
Meu destino veio traçado
Com a minha formação
O ventre que me gerou
Foi desmando e traição
Fui maldito desde o dia
Da minha concepção
Passei por cima da pílula
Fui gerado em desconforto
Minha mãe tomou remédio
Pra ver se eu nascia morto
Vim ao mundo por acaso
E não conheci meus pais
Fui jogado em um cerrado
Em pedaços de jornais
A polícia achou-me quando
Procurava marginais.
Alguém de mim tomou conta
Me fazendo uma esmola.
Me criaram como filho
E me botaram na escola
Me criaram como filho
E me botaram na escola.
Não quis saber de trabalho,
Estudar não dei valor
Sempre desobedecendo
Ao meu superior
Batia nos meus colegas.
Xingava meu professor
Peguei o vício das drogas
Junto com a corriola
Minha vida foi maldita
Mesmo dentro da escola
Fui expulso de um colégio
Por traficância ilegais
Desonrei uma menor
E fugi da casa dos pais
E parti para a pesada
Num grupo de marginais
Não conto tudo a miúdo
Porque meu tempo não dá
Não quis nada com o trabalho
Meu negócio era roubar
Traficante e assaltante
Todos temiam a mim
Fui terror da noite escura
E fiz tudo que foi ruim
Um germe assim como eu
Só presta levando o fim
Sempre fugindo do cerco
E matando de emboscada
Seduzi muitas donzelas
Fiz assalto à mão armada
Naquele mesmo lugar
Onde eu fui encontrado
Pela ronda da polícia
Há muito tempo passado
Me escondendo de um assalto
Por ela eu fui baleado
A bala entrou no meu peito
E feriu meu coração
Já fizeram muito esforço
Mas não tenho salvação
Não te escrevo mais porque
Minha vista está tão pouca
Falar também eu não posso
Minha garganta está rouca
Termino a carta botando
Muito sangue pela boca
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