CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



quinta-feira, 16 de maio de 2019

Flip anuncia cordelista e escritora Jarid Arraes em sua programação (Paraty - RJ)

A escritora e cordelista Jarid Arraes, que participará da Flip 2019 / Foto: Divulgação - Reprodução - Folha de S. Paulo




























Levando à frente a tradição de apresentar autores iniciantes para o grande público, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) anunciou, nesta quarta-feira (8), a escritora e cordelista cearense Jarid Arraes, 28, entre os autores que vão participar da programação do evento.
Ela já publicou obras como “As Lendas de Dandara” (Editora de Cultura) e “Heroínas Negras Brasileiras” (Pólen). O primeiro deve ganhar uma adaptação para a TV Globo.
Arraes também é curadora do selo literário Ferina, da Pólen Livros, dedicado à publicação de mulheres escritoras. Em junho, às vésperas da festa, ela lançará seu primeiro livro de contos, “Redemoinho em Dia Quente”, pela Alfaguara.
A autora nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará, e vive em São Paulo desde 2014. Seu pai e seu avô são cordelistas e xilogravadores —ela abraçou a literatura de cordel para continuar a tradição da família. Arraes já tem mais de 60 cordéis publicados.
Ao começar a escrever, a autora conta que tentou trazer para o cordel temas que não eram típicos desse gênero.
“Não queria escrever sobre Lampião, sobre homens machos que fazem coisas supostamente masculinas, com um humor que debocha de quem [sempre] se debocha. Resolvi criar protagonistas mulheres, trazer novos assuntos. Juntei um público que gostava de cordel, mas nunca tinha lido sobre esses assuntos, e um público que gostava desses assuntos, mas nunca tinha lido cordel.”
Um dos folhetos publicados, voltado para o público infantil, por exemplo, conta a história de uma menina gorda que quer ser bailarina, mas enfrenta a rejeição de escolas de balé. Outro narra a história de uma princesa com um cabelo crespo que tem poderes mágicos —até que chega um lobo e alisa seu cabelo, fazendo-a perder os poderes.
Seu segundo livro, “Heroínas Negras Brasileiras”, é uma seleção de 15 cordéis que contam as biografias de mulheres esquecidas da história —como Maria Firmina dos Reis, autora de “Úrsula”, primeiro romance de uma autora negra do Brasil, de 1859, e Luiza Mahin, ex-escravizada e líder da Revolta dos Malês, em 1835.
“Minha premissa era o fato de que não aprendemos na escola sobre essas mulheres, principalmente as negras”, afirma Arraes.
A escritora é representante de uma tendência surgida às margens das editoras tradicionais —e depois absorvida por elas— que a Flip tem abraçado nos últimos anos. É um movimento marcado por uma literatura que reafirma seu caráter político, ligado a questões raciais e de gênero.
“Tudo isso é muito político. Estou fazendo uma reparação histórica, porque temos poucos personagens negros. Mas toda literatura é política, porque parte de um autor que escreve a partir do que conhece, afirma. “A pessoa que não faz isso [literatura política] assumidamente também está fazendo. Quando vou à ópera, vejo que a maioria das pessoas no palco é branca. E isso é político, embora ninguém lá esteja falando sobre o assunto.”

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