CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



domingo, 23 de setembro de 2018

Vida longa ao cordel (CE)

Cordelistas falam ao O POVO sobre a recente decisão do Iphan, que elevou a expressão artística ao título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil




O cordel é o novo Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Após um processo que se estendeu por oito anos e envolveu pesquisas em diversas partes do País, entrevistas e elaboração de um documento explicativo - o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) elevou a literatura de cordel ao nível de patrimônio imaterial. Entre cordelistas de diversas idades e modos de perceber a arte, o clima é de contentamento e esperança. Categorizado durante décadas como uma arte menor, o cordel se disseminou "pelas beiradas" e seguiu ganhando público, espaços populares e abrangência.
"Comparando com outras manifestações, o cordel está muito, muito, muito bem e não corre o risco de morrer. A academia reconheceu, os jovens estão produzindo. Esse reconhecimento do Iphan é bom e vem para fortalecer", pontua a artista cearense Julie Oliveira. Izabel Nascimento, cordelista natural de Sergipe, explica que a Academia Brasileira de Literatura de Cordel enviou, em 2010, uma solicitação para o Iphan. A partir daí foi iniciada pesquisa sobre essa expressão popular que envolve palavras, música e artes visuais. "Tenho convicção de que esse novo título traz muita responsabilidade tanto para os cordelistas quanto para o Estado, que deve preservar e valorizar", pontua. A expectativa entre os artistas, a partir de agora, é que o cordel seja incluído e tenha espaço próprio em editais e em outras formas de fomento. "O título é uma porta que se abre e que vai referenciar algo que a sociedade já sabe", completa Izabel.
No material que divulgou, o Iphan define o cordel como "gênero literário, veículo de comunicação, ofício e meio de sobrevivência para inúmeros cidadãos". Ainda segundo as informações do instituto, o novo patrimônio cultural imaterial surgiu nos estados nortistas e nordestinos, mas se espalha por todas as regiões. "O cordel se inseriu na cultura brasileira em fins do século XIX, forjado como a variação escrita da poesia musicada por duplas de cantadores de viola, de improviso, conhecida como repente", explica o documento. Vindo da tradição oral, ele se materializa em livretos comercializados em feiras. "A literatura de cordel é um gênero poético que resultou da conexão entre as tradições orais e escritas presentes na formação social brasileira e carrega vínculos com as culturas africana, indígena e europeia e árabe".
A cordelista Bia Lopes lembra que antes mesmo do acesso ao rádio e à televisão ser difundido, o cordel já cumpria a função de informar a população que não tinha acesso aos jornais. Com narrativas bem explicadas e de fácil acesso, além de ter baixo custo, essa ferramenta abordava as novidades e polêmicas sociais. "Ele foi evoluindo conforme evoluía o conceito de sociedade, e se tornou para nós uma referência e um exemplo de resistência", acredita Bia. O cordel, na opinião dela, não apenas sobreviveu, mas se adaptou e soube usar as ferramentas tecnológicas. Pelas redes de bate-papo da internet, cordelistas abrem diálogos e trocas de experiências- que são transformados em publicações físicas. "Um poeta aqui e outro em outro estado, fazem o duelo. Como seria possível sem a internet? Ela favorece! A chegada dessas ferramentas fez o cordel criar uma nova perspectiva de comunicação", diz Bia.
Fonte: https://www.opovo.com.br

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