CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



sábado, 22 de setembro de 2018

Cordel, mais que um patrimônio (PE)


A poesia popular, contando de forma rimada 'causos' da vida cotidiana, enfrentou e ainda hoje enfrenta preconceitos. Mas, na verdade, carrega em si uma riqueza cultural sem tamanho.


Leusa Santos, editora-executiva da Folha de Pernambuco
Leusa Santos, editora-executiva da Folha de PernambucoFoto: Arthur de Souza/Arquivo Folha
Qualquer pessoa que entre em contato com um livreto de cordel, ao ler seus versos, geralmente é tomada pela sonoridade textual de seu enredo. Ou seria textualidade sonora? Quando lemos um verso, principalmente em voz alta, nosso cérebro fica um pouco dividido entre música e texto. Afinal, é música ou é texto? Já experimentou? Eu fiz essa tentativa e realmente é salutar. Digo isso porque, ao lermos um texto rimado, nosso cérebro é acionado em áreas diferentes, proporcionando estímulos que contribuem para a memória. Isso foi alvo de vários estudos científicos.
Mas voltemos à dualidade música/texto. Na semana passada, a literatura de cordel recebeu o título de patrimônio cultural do Brasil. Reconhecimento merecido, porém tardio, como geralmente é para as coisas da cultura nesse Brasil, só para não entrar na seara do descaso, cuja vítima mais recente foi o Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Mas voltemos ao cordel, sobre o qual falamos mais um pouco hoje neste bate-papo e também no caderno de Arte. Esse gênero carrega duas principais tradições. Uma delas são os trovadores medievais, cujos relatos passaram a ser impressos na época da renascença, entre os séculos 15 e 16.

No Brasil, nos chegou no século 19, pelas mãos dos portugueses - a Europa já estava toda conquistada pelo movimento renascentista. A poesia popular, contando de forma rimada 'causos' da vida cotidiana, enfrentou e ainda hoje enfrenta preconceitos. Mas, na verdade, carrega em si uma riqueza cultural sem tamanho.

Os folhetos de cordel contêm ilustrações chamadas xilogravuras. É a segunda tradição que o cordel carrega. Ao falarmos delas, saímos da Europa e vamos até a Ásia Oriental buscar a sua origem. A xilogravura é a arte de reproduzir no papel uma imagem talhada em uma madeira matriz. Remonta ao século 6 e provavelmente foi criada pelos chineses. Ainda não há afirmações categóricas dos historiadores.

J.Borges, um artista que reúne as duas técnicas - o cordel e a xilogravura, é reconhecido no mundo inteiro. Pernambucano de Bezerros. Desbravador da literatura de cordel no Sertão, que ganhou o mundo. “Era o jornalismo nosso”, diz ele em entrevista nesta edição. E continua até hoje desbravador, lutando contra o preconceito, descreve o Nordeste para o mundo e já deu aulas sobre a xilogravura e o cordel para vários países. Cordel, trovadores, gravuras, poesia, música, história, passado, presente e futuro. Um gênero artístico multifacetado, com forte presença da cultura popular e, ainda, faz bem à saúde.

Tentei trazer a você, leitor
Um pouco de uma paixão
Que faz parte da história
Perpetua a nossa memória
E tem exemplos de dedicação
Muito mais teria a dizer
Mas lhe desejo, a essa altura
Que tenha uma ótima leitura!

Fonte: https://www.folhape.com.br

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