CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Cordelista J. Borges terá sua biografia publicada pela Cepe (PE)

Pesquisadora e jornalista Maria Alice Amorim assina a biografia de J. Borges, que deve sair no começo de 2019, pela Coleção Memória, da Companhia Editora de Pernambuco


J. Borges, cordelista pernambucano
J. Borges, cordelista pernambucanoFoto: Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

Deve ficar pronto até o início de 2019, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), a biografia de J. Borges, escrita pela pesquisadora Maria Alice Amorim. O livro, com título provisório "J. Borges - Entre fábulas e astúcias" será lançado pela Coleção Memória e está em processo de editoração.

livro traz a obra e a trajetória do artista, nascido na zona rural de Bezerros, onde hoje fica o município de Sairé. 

"É alguém apaixonado pelo que faz, que construiu uma história vendendo folhetos de cordel na feira. Ele é muito obstinado. Quando viu que a gravura lhe dava mais chão, passou a se dedicar mais a ela do que ao cordel", compara Maria Alice, que esteve várias vezes no ateliê do mestre, para entrevistá-lo.

No livro, a escritora conta sobre os percalços enfrentados por J. Borges ao longo da vida. Ele teve 18 filhos biológicos, mais seis adotivos. Passou por dificuldades de saúde, e chegou a ver alguns de seus descendentes morrerem. Um dos filhos faleceu no ano passado, cinco dias antes de o artista completar 82 anos, em dezembro.

"Ele tem uma poética de imagens verbais e dos desenhos que é única. É muito inteligente, e soube ser maleável, se moldando pelo que a vida ia apresentando a ele", pontua Maria Alice Amorim, ressaltando que ele lançou 316 cordéis. O mais recente foi "A chegada de Ariano Suassuna no céu", em 2017.

Para a pesquisadora, uma das principais características da personalidade do cordelista é a resiliência. "Ele ia para a feira e queria ter o dinheiro dele. Então, fazia colher de pau e cestinhas de madeira, para vender", revela. Proativo, sempre se manteve sorridente, apesar dos obstáculos. "Quando percebeu que o galerista era uma espécie de atravessador, passou a ser seu próprio patrão. Ele não é um deslumbrado, mas soube ser cioso do seu valor e se fez respeitar", observa ela.

Em relação à literatura de cordel ter se tornado Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan, Maria Alice Amorim é cautelosa, embora admita a importância para que surjam políticas públicas e ações estruturadoras para o setor. Para ela, a etapa seguinte, da salvaguarda, precisa ser continuada. "O que todos nós, detentores, público apreciador, associações, institutos, podemos fazer juntos para que o cordel tenha condições de ter vitalidade?", questiona.

Na opinião de Maria Alice, nunca é tarde para se chegar o reconhecimento. "No início dos anos 1990", cita ela, "não surgiam novo poetas, as tipografias estavam fechando e não se viam cordéis nas feiras". Com a chegada da internet, ela lembra de artistas como José Honório, que lançou em 1995 o Marco Cibernético construído em Timbaúba. Em 1997, veio a primeira peleja virtual por e-mail, com Américo Gomes. "Surgiram a impressão doméstica, a diagramação no Word se popularizou. Isto deu autonomia aos artistas, diminuiu os custos", avalia.

Foi quando, na visão da estudiosa, se ampliaram a conectividade - dos poetas em contato com outros - e a interatividade - criando plateias virtuais, como em redes sociais como o Facebook. "Foi retomada a vitalidade do cordel, que nunca deixou de estar presenta na música, na moda e no cinema, demonstrando o quanto é enraizado em nossa cultura", compara, citando fenômenos recentes, como o cordelista Bráulio Bessa, que tem quadro no programa da Rede Globo "Encontro com Fátima Bernardes", e se tornou sucesso ao lançar seus textos em livros.

   Lançamento
Em 2012, a pesquisadora defendeu sua tese de doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Como o título "Pelejas em Rede: vamos ver quem pode mais - Comunicação em múltiplos suportes e ambientes no cordel e no repente", o estudo foi transformado em livro, que deve ser publicado ainda em 2018, pela editora da autora, a Zanzar. O evento de lançamento deve ser realizado em novembro no Recife, em data e local que estão sendo definidos. O projeto de lançamento do livro foi aprovado pelo Funcultura estadual.
Fonte: https://www.folhape.com.br

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