CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



terça-feira, 25 de setembro de 2018

Patrimônio Cultural, literatura de cordel é celebrada na Feira de São Cristóvão (RJ)

O cordelista Manoel Santa Maria aprendeu a ler com a literatura de cordel

Felipe Grinberg
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Manoel Santa Maria é mineiro e tem 76 anos. Victor Alvim, ou Lobisomem, é carioca e tem 44 anos. Apesar da diferença de perfis há uma paixão que os une: a literatura de cordel. Nesta semana, o IPHAN a tornou Patrimônio Cultural do Brasil.
Manoel conheceu o cordel através de seu pai, que mesmo analfabeto incentivava o filho a ler os folhetins que comprava dos caminhoneiros nordestinos que estavam de passagem pela cidade pois iam levar suas mercadorias para São Paulo. Este não foi somente seu primeiro contado com as palavras, mas também com a história:
— Foi o cordel que me trouxe a cultura geral. Foi através dele que eu conheci as histórias europeias, como as de Carlos Magno e os Doze Passos de França.
Com mais de 60 anos envolvido com a literatura de cordel, Manoel se emocionou ao descobrir que sua arte havia se tornado patrimônio cultural. Para o anúncio oficial, criou pequeno poema em homenagem a todos os cordelistas:


— Salve, salve! Viva, viva! A nossa literatura de cordel sendo elevada a mais imponente altura. Do bem imaterial, expoente da cultura.
Já o carioca Victor Alves conheceu os poemas após muito pesquisar sobre a cultura brasileira. Aos 20 anos começou na arte de lutar capoeira, o que levou a buscar mais sobre os movimentos artísticos do país. Ao descobrir a literatura de cordel, se encantou. O “Lobisomem”, apelido que ganhou na capoeira, levou quase 10 anos para recitar seu primeiro poema. Para ele, tornar esse estilo de poema patrimônio imaterial, é reconhecer as várias facetas do cordel:
— No interior do nordeste não havia muitos jornais impressos e rádio e televisão não existiam. Escolas e teatros também eram escassos. Por isso, além de levar entretenimento, tinha a função de difundir as informações e até de alfabetização. — conta.
Anos se passaram, e hoje, os novos assuntos dos cordéis se concentram principalmente em questões políticas. Apesar de as tecnologias poderem afastar novos leitores e, consequentemente, novos cordelistas, Victor acredita que os smartphones possuem a utilidade inversa:
— O nordeste continua sendo o maior reduto, e sempre vai continuar sendo. Mas temos cordelistas por todo o Brasil. Hoje o cordel tá na internet, pode publicar nas redes sociais, pode colocar um vídeo seu recitando. Não é o folheto tradicional que diz o que é um cordel, e sim a forma do texto — diz Victor.
Já Manoel lamenta que algumas tradições estejam se perdendo:
— Algumas pessoas só sabiam de algumas notícias quando iam na feira e ouviam ou liam um cordel falando que o homem tinha pisado na Lua ou que a guerra havia acabado. Hoje isso não acontece mais.
Pavilhão de Feira de São Cristóvão completa 15 anos
Maior reduto nordestino do país, a Feira de São Cristóvão comemora em setembro 73 anos de existência e 15 anos da criação do pavilhão Luiz Gonzaga. Apesar da data comemorativa, inda há pouco para se celebrar. Desde o final do ano passado, o local não possui abastecimento regular de água e luz, dependendo exclusivamente de geradores e pipas d’água para se manter aberto. A situação chegou a ficar crítica e dívidas, que ultrapassam R$ 10 milhões ameaçou as festas juninas. Apesar de não ser responsável pela dívida, o risco da feira fechar obrigou a Prefeitura intervir na administração do local.

O sanfoneiro Zé do Gato toca na festa de 15 anos do pavilhao Luiz Gonzaga
O sanfoneiro Zé do Gato toca na festa de 15 anos do pavilhao Luiz Gonzaga Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

Ainda sob o guarda-chuva da Casa Civil, o comando da Feira de São Cristóvão hoje é dividido entre cinco feirantes que compõe uma comissão provisória. A principal ideia da prefeitura é entregar a gestão do local para um outro responsável, seja privado ou por meio da criação de uma empresa pública, nos moldes que foi feito com o Rio Centro. A previsão é que a situação da gestão seja resolvida até dezembro.
Em meio à festa de comemoração de aniversário, Maria Marques, de 69 anos trabalha no local há mais de 30 anos. Aliviada pelos principais problemas de falta de água e de luz já terem sido superados, ela aposta no público jovem como o futuro da feira:
— Tivemos que reduzir custos, mas agora estamos conseguindo pagar as coisas. Hoje o público jovem é um dos principais aqui. O boca a boca entre os frequentadores é o que tem nos ajudado. Quem paga as nossas dívidas é o povo que vem pra cá, e depende da gente oferecer o melhor para eles. — conta Maria.

O Pavilhão de São Cristóvão completa 15 anos e para comemorar a data foi feito um bolo de 5 metros.

Fonte: https://extra.globo.com
O Pavilhão de São Cristóvão completa 15 anos e para comemorar a data foi feito um bolo de 5 metros. Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

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