Professores, estudantes, artistas e produtores da cultura popular reafirmam diálogo entre Academia e Literatura Popular nas salas de aula da UFPB. A VI Semana do Programa de Pesquisa em Literatura Popular (PPLP), continua até a quinta-feira (24) com debates que mostram a força e a renovação do cordel, da xilogravura e outras formas de cultura popular
Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é assim: a cultura popular está em sala de aula. Professores, alunos e artistas discutem características, traços e ritmos da arte feita do povo para o povo. Um tema que este mês ganha mais destaque durante a VI Semana do Programa de Pesquisa em Literatura Popular (PPLP), que é realizada no campus I, em João Pessoa, até o dia 25 de novembro.
Entre os participantes do evento a principal preocupação é deixar claro o que é cultura popular. “Levar um grupo de xaxado pra dançar em São Paulo não é cultura popular. O correto seria os paulistas virem até o Nordeste acompanhar uma apresentação desses grupos, para suas comunidades. Aí sim, estamos falando de cultura popular”, explica o poeta e cordelista Marco di Aurélio.
Ele participa do curso Cordel e Xilogravura em Sala de Aula, realizado na Sala de Leitura do PPLP, no segundo andar da Biblioteca Central da UFPB. Na conversa com professores e alunos, Marco di Aurélio falou da importância de conhecer e preservar as raízes do povo nordestino e exemplificou: “Certa vez fui convidado por um cantor popular a fazer uma ‘zuada’ numa feira livre, no interior da Paraíba. Ele me colocou pra tocar zabumba, mesmo sabendo que eu nunca tinha tocado esse instrumento. Durante a apresentação, por várias vezes, tentei encontrar alguém que realmente soubesse tocar. O cantor sempre dizia para que eu continuasse no grupo. Depois de certo tempo, ele falou: ‘você não entendeu que essa brincadeira é nossa? Não é pra ninguém de fora vir brincar’. Foi aí que percebi que até mesmo eu, uma pessoa que sempre estudou esse universo, naquele momento não estava sabendo o que era cultura popular”.
Cordel e xilogravura
E é na cultura popular que encontramos um importante instrumento pra fortalecer a própria cultura popular. No cordel são retratados a música, os costumes, a gastronomia, o jeito de ser do povo nordestino. “É preciso atenção, cuidado com a arte de fazer o cordel. As rimas, as escritas devem ter um casamento perfeito”, destaca Marco di Aurélio. Nascido na cidade de Bodocó, alto sertão pernambucano, ele é autor da primeira edição de literatura de cordel no sistema Braille no Brasil.
E pra ilustrar essa arte de textos que se transformam em rimas são usadas as xilogravuras. Pra falar sobre essa arte, esteve presente na VI Semana do Programa de Pesquisa em Literatura Popular (PPLP) o pintor, poeta, artista gráfico e um dos xilógrafos brasileiros com mais destaque atualmente, Marcelo Soares.
“Alguns poetas dizem como querem a capa do cordel. Outros mandam o texto, para que eu crie a capa. Acho a segunda forma mais interessante”, comentou o artista que desde pequeno vive no universo do cordel. Marcelo Soares começou ilustrando os livros de cordel do pai, José Soares (1914-1981), renomado cordelista conhecido como O Poeta Repórter.
Para ele, a tecnologia ajudou a propagação do cordel. “Antes era difícil fazer um livro desses. Hoje, com o computador, tudo é mais fácil. Pra se ter uma idéia, na última Bienal do Livro em São Paulo comprei mais de 500 títulos”, comentou. Marcelo expandiu suas atividades, incursionando por desenho e pintura, criando capas e ilustrações para livros, discos, cartazes para cinema, shows, teatro e outros eventos. É autor de quase uma centena de folhetos de cordel, ilustrou obras de dezenas de poetas populares, tendo também trabalhado para editoras como Brasiliense, ltatiaia, Prelo, Paulinas, Contexto e Global e para jornais como O Globo, Jornal do Brasil, O Pasquim, Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco.
Fonte: www2.ufpb.br
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