A maior
parte dos cordelistas que participam desta coletânea tem formação acadêmica.
Nestes trabalhos, entretanto, resta preservada a linguagem simples e envolvente
dos cordéis, mesmo quando trata de assuntos sérios como o tema explorado pela
odontóloga Cristine Nobre ou pelo físico Jota Lima. Em outros folhetos da
mostra aparece a objetividade ingênua, própria da literatura de cordel, as
narrativas acentuadas pela oralidade, a musicalidade como característica
marcante deste gênero.
A
Literatura de Cordel vivencia uma fase de transformações. O poeta não expõe
mais seus folhetos nas feiras livres. A tenda agora é eletrônica. Alguns desses
poetas da Academia de Cordel do Vale do Paraíba não têm folhetos impressos.
Toda produção deles está no universo da internet, emocionando e despertando o
interesse das novas gerações. É uma literatura que soube sobreviver, saindo das
casas grandes e senzalas para se transformar em objeto de estudo de
pesquisadores estrangeiros.
O cordel
retrata os anseios e a cultura da região onde nasceu. Entretanto, atualmente
está disseminado em todo o país e até no estrangeiro. Incorporando linguagem e
temas populares, faz uso da fala coloquial com humor e ironia, falando de temas
do folclore, assuntos religiosos, sociais, políticos, episódios históricos e os
chamados “folhetos fesceninos” que muitos estudiosos do cordel chegam a
classificar na categoria de “folhetos de gracejo”, mas, é putaria mesmo, dentro
da transparência franca e um tanto simplória da literatura popular.
Nesta
coletânea não há folhetos “de gracejo” escabrosos, mas não faltam poetas
impudicos. Brevemente lançaremos uma coletânea de cordéis safados que têm seu
lugar de honra. É porque o cordel cobre todas as facetas da vida humana,
incluindo o chamego.
O que se
ressalta é a riqueza poética deste gênero literário. No ritmo e na melodia
construídos com a medida fixa dos versos e a presença de rimas, o cordel também
mexe com o jogo de palavras, constrói expressões poéticas, às vezes líricas, às
vezes visões pessoais, carregadas de significados que só o outro poeta, o que
lê, entende e reconstrói. Pegue-se esta estrofe de Chico Mulungu:
Sou passageiro do tempo
Como uma flecha certeira,
Sem descansar da bagagem
Que trago abrindo porteira
Na estrada que liga, mira
Mulungu a Guarabira,
Por minha existência inteira.
Em seu ofício de poeta, o novo cordelista vai além das cantigas
triviais e despojadas. Ele percorre múltiplas tendências nas veias abertas da
poesia.
Segundo pesquisas acadêmicas, há na Paraíba cerca de 330
artistas do cordel em atividade. Temos aqui 18 deles, com suas rimas fáceis ou
difíceis, pobres ou ricas, narrativas despojadas ou requintadas, evocando suas
experiências pessoais ou botando o dedo nas feridas da humanidade.
Fonte: Diário PB
Nenhum comentário:
Postar um comentário