O choro transpassa a noite
E o peito das sentinelas
Que viajam nas memórias
Aquecidas pelas velas
Só Deus é explicação
Para tamanha mazela.
Comadres antes distantes
Unidas na ocasião
Organizam a cozinha.
Tomam conta do fogão.
Fazem chá, café e levam
Aos que resguardam o caixão.
Lá fora os jovens namoram
Tagarelam, dão risada.
Parece que a morte não
Passou por aquela estrada.
São duas realidades
Muito diferenciadas.
Horas antes do enterro
As comadres se levantam.
Rodeiam o caixão em rezas.
Fecham os olhos e cantam.
Rogam por aquela alma.
Todos os males espantam.
Chega o terrível momento
De enterrar a criatura
O choro dobra o de antes
Se eleva a toda altura.
Quem ainda não chorou
Agora desestrutura.
Uma das filhas desmaia.
Outras grita enlouquecida
Por Deus, Porém não tem jeito.
Lá se foi àquela vida.
Os homens pegam o caixão
E se dirigem a saída.
E assim a marcha segue
Desapressada e tristonha.
Se some no horizonte
Só a enxerga quem sonha
Até que a última lembrança
Um dia se decomponha.
Manoel Messias Belizario Neto
Imagens da internet
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