CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



domingo, 27 de novembro de 2011

Heróis da Távola Redonda em versos de Cordel

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A história do rei Artur, personagem sobre quem são depositadas as dúvidas da existência, é rodeada de nuvens. Oriundo da Idade Média, protagonista das novelas de cavalaria, guerreiro fundador da Távola Redonda, defensor da Grã-Bretanha, o lendário Artur perfaz o caminho literário abraçado pelas veredas do folclore. Se, de um lado, autores encontram nele elementos históricos, por outro, o povo lhe confia atributos lendários.

Rei Arthur em cordel

Rei Arthur em cordel

A versão em cordel dessa história mítica acaba de ser lançada, em São Paulo, pela Editora Nova Alexandria. Trata-se de “Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda”, de Cícero Pedro de Assis.
Foi Geoffrey de Monmouth, no século 12, quem apresentou uma genealogia para o rei, no livro “História dos Reis Britânicos”. Filho de um relacionamento manipulado pelo mago Merlin, entre Uther Pendragon e Igraine, Artur recolheu para si as características mágicas que o transformarão no herói nacional britânico. Segundo alguns estudiosos, o autor Monmouth escreveu o percurso arturiano a partir de histórias, crônicas e poemas bem anteriores à época em que viveu. Enquanto Monmouth introduziu genealogia e cenário para Artur, como o caso da espada Excalibur fincada na pedra de onde só as mãos de um predestinado seriam capazes de arrancá-la, foi o francês Chrétien de Troyes, no final do século 12, o responsável pela confecção do universo místico formador do ciclo arturiano das novelas de cavalaria.
Por Troyes tomamos contato com a busca pelo Santo Graal, o cálice no qual Cristo bebeu o vinho da última ceia em que José de Arimateia recolheu seu sangue depois da crucificação. A Morte de Artur(1485), de Sir Thomas Malory, é, no entanto, a obra mais conhecida do chamado ciclo arturiano.
Por sua característica épica é que o personagem rei Artur não morre no tempo. Por isso, ainda, o seu retorno triunfal, como best seller, na obra literária de Marion Zimmer Bradley, “As brumas de Avalon”. Nomes como Morgana, Merlin, Guinever, Persival, Igraine entraram para a nossa vida. Apesar de a lenda de Artur já ser conhecida, havia ali um ar mágico, visto que narrado por Morgana, a senhora da magia.
O retorno do rei

Com a consolidação do cinema nos anos 50 do século 20, as novelas de cavalaria ganharam novo impulso e o rei Artur materializou-se no corpo de atores e em filmes de animação. Desde 1953, talvez a primeira adaptação, “Os cavaleiros da Távola Redonda”, dirigido por Richard Thorpe, com Robert Taylor como Lancelot e Mel Ferrer como o rei Artur, até 2004, com a produção “Rei Artur”, de Antoine Furqua, mais de 20 filmes foram rodados sobre o tema. O clássico “Excalibur” (1981), de John Boorman, além de ser o melhor filme sobre Artur, é a versão cinematográfica mais fiel à lenda.
Vale citar o longa-metragem de animação produzido pelos estúdios Disney em 1963, “A espada era a lei”, e uma adaptação do livro de Charles G. Finney, “As sete faces do Dr. Lao”, de 1964, que apresenta um Merlin decadente, idoso e ranzinza que já não consegue fazer truques mágicos, artista de circo, ao lado de Pan, o deus grego da natureza, e outras atrações, em um circo mambembe no Arizona, interior dos EUA.
Para quem gosta de cinema francês, é fundamental a adaptação de Robert Bresson, “Lancelot Du Lac”, de 1974. Para os leitores de histórias em quadrinhos, lembramos do “Príncipe Valente”, criado por Hal Foster e publicado pela primeira vez em 1937.
Rei Artur em cordel
A adaptação dos clássicos para o cordel é uma tradição. Os livros do povo, como dizia Câmara Cascudo, tiveram sua versão em cordel nos primeiros dez anos do século 20. Encontraremos a Donzela Teodora, a Imperatriz Porcina, Genoveva de Brabante, Rosa de Milão e outros personagens clássicos universais agindo nas sextilhas do cordel.
As novelas de cavalaria também passaram por esse filtro poético. Os estudiosos apontam um hipotético ciclo carolíngio, ligado a Carlos Magno, com Oliveiros e Ferrabrás, Roldão e até Joana d’Arc. Entretanto a matéria do rei Artur foi pouco explorada.

O autor

Cícero Pedro de Assis é pernambucano, nascido em Caruaru aos 18 de julho de 1954. Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, ocupa a cadeira de nº 30, cujo patrono é o grande poeta paraibano José Galdino da Silva Duda. Radicado na cidade de São Paulo desde 1970, é poeta atuante. Dr. Cilso, como costuma se apresentar, escreveu outras adaptações para o cordel como “As aventuras de Robinson Crusoé “e “Aventuras de Simbá, o marujo” (Editora Luzeiro).

Trecho inicial do livro
A paixão é sentimento
Que deixa o peito arrasado
Porque sem dó cega os homens,
Isso é fato consumado.
Há quem cometa loucura
Quando está apaixonado.

Uso a força de meus versos,
Que espero que não se esconda,
Pra falar do rei Artur
E a Távola Redonda,
Formada de cavaleiros,
Forçosos qual brava onda.

Quando Uther Pendragon
Era rei da Inglaterra,
Muitas vezes ocorria
Lá no seu reinado guerra,
Deixando visível marca,
Como incêndio numa serra.


Uma delas contra o duque
De Tintagil foi mantida,
Destruindo cruelmente
O bem maior que é a vida,
Que deve ser respeitada
E com amor protegida.


Pendragon, com muito tino,
Fez proposta pela paz
Ao duque de Tintagil,
Com modo muito loquaz.
Não queria ali mais guerra,
O que só tristeza traz.


Indo ao castelo real,
O duque de Tintagil
Levou consigo a esposa.
Mostrando-se o rei gentil,
Pendragon sentiu por ela,
Logo um desejo febril.


Tinha o nome de Igraine
A mulher apaixonante.
Porém o duque notando
Do rei por ela o semblante,
Partiu sem que lhe avisasse.
Não ficou mais um instante.

Logo que soube do duque
A partida repentina,
O rei muito enfureceu-se,
Quase que não se domina.
Mandou chamá-lo de volta
Sob ameaça ferina.

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