CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Luzeiro relançará o clássico "João Soldado" com atualização ortográfica

por Marco Haurélio

          O clássico "João Soldado, o valente praça que meteu o Diabo num saco", de Antônio Teodoro dos Santos, ganhará nova edição na Editora Luzeiro. Publicada desde o tempo da Prelúdio (1959), a obra é um best-seller com centenas de milhares de exemplares vendidos e mais de 50 anos de publicação ininterrupta.
          No blog CORDEL ATEMPORAL, em artigo, analiso as origens do conto, que tem origens no mito do herói que burla o Diabo, presente em vários países, como Rússia, Romênia, Alemanha, Espanha e Portugal, de onde veio para o Brasil:
JOÃO SOLDADO, UM CORDEL ATEMPORAL
          Antônio Teodoro dos Santos (1916-1981) teve a ventura de versar, ou seja, verter para a literatura de cordel, a história de João Soldado, o Valente Praça que Meteu o Diabo num Saco, conhecida de muitos estudiosos e dos irmãos Grimm, que a recolheram na Alemanha, há cerca de dois séculos. Há uma versão mais antiga, O Diabo e o Soldado, escrita por Firmino Teixeira do Amaral e publicada pela extinta Editora Guajarina, de Belém do Pará. A versão de Teodoro situa o soldado na Palestina, onde, futuramente, ele irá encontrar o próprio Jesus Cristo:

João Soldado se criou
Na terra da Palestina
Ficou órfão logo cedo
Foi bem triste a sua sina
Mas porém foi coroado
Por uma estrela divina.

          João, então, resolve “assentar praça”. Contudo, a sua honestidade impede que faça carreira na polícia; a crítica é sutil e, infelizmente, atual:

O que é certo que João
Na vida não fez carreira
Somente por um motivo
De não pegar na chaleira
Até que saiu da praça
Limpo sem eira nem beira.

          Após vinte e quatro anos de bons serviços, João recebe como soldo “uma farda/ quatro vinténs e um pão/ um capacete rasgado/ e um par de botinão”. Voltando para a casa, João tem um encontro que mudará, para sempre, a sua vida: dois mendigos lhe pedem uma esmola e recebem uma parte do pão; por mais três vezes eles aparecerão até que João lhes entregue “o último dinheiro”. Aí há a revelação:

Aqueles dois mendicantes
Eram São Pedro e Jesus
Quando andavam neste mundo
Trazendo a divina luz
Provando os bons corações
Com sua pesada cruz.

           Em retribuição à boa ação, Jesus se mostra disposto a satisfazer qualquer pedido de João. São Pedro, então, instiga-o a pedir a salvação de sua alma, mas ele acaba fazendo outro pedido:

... Peço ao mestre que me dê
Uma força divinal
De tudo quanto eu mandar
Entre aqui no meu bornal.

           O dilema de João Soldado – escolher entre a salvação e a possibilidade de gozo no plano material – está presente em outras adaptações pertencentes ao mesmo ciclo. A título de comparação analisemos algumas delas. Em Jesus e o homem do Surrão misterioso, de Manoel D’Almeida Filho, há o encontro da personagem principal, apelidado de Moleza, com os dois benfeitores de João Soldado. Almeida assim descreve os dois velhos (note a semelhança com a descrição de Teodoro):

Então aqueles dois velhos
Que falavam com Moleza,
Eram Jesus e São Pedro,
Dentro da sua grandeza,
Que sofriam pela terra
Para ajudar a pobreza.

À pergunta direta de Jesus, “- Quer riqueza ou salvação?”, Moleza não titubeia e responde talqualmente João Soldado:
Quero que neste surrão
Tudo que eu mandar entrar
Entre no mesmo momento
Sem fugir nem recusar,
Seja coisa viva ou morta,
Só saia quando eu mandar.
(...)
Íntegra em: http://marcohaurelio.blogspot.com/2011/03/antonio-teodoro-dos-santos-1916-1981.html

Fonte: fotolog.terra.com.br/marcohaurelio

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