CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



domingo, 15 de agosto de 2010

VISÃO DO ‘STF’ SOBRE A LEI FICHA LIMPA

AUTORA: SALETE MARIA

Um grupo de três mulheres
(Samira, Tonha e Francisca)
Metendo suas colheres
Nossa Justiça belisca
Num debate educativo
Em tom interpretativo
Jurisprudência rabisca

Samira é professora
De direito eleitoral
Tonha é agricultora
E Francisca vende jornal
No Teatro Cordelírio
Onde folheto é colírio
Pra lente multifocal

É um trio de brasileiras
Que vive honestamente
Pois seu suor paga a feira
Que fazem quinzenalmente
Além de imposto demais
Pagam luz, saúde e gás
Água, escola e absorvente

Por isso o seu interesse
Na política do país
Que num dia como esse
Pode estar por um triz
Se o povo não se envolver
Não lutar, não resolver
Da questão, o velho X

Assim começa a história
- da conversa feminina -
Na casa de Olga Vitória
Tetraneta de Ursulina
Onde a decisão final
Vai circular no jornal
Ficha Limpa da Esquina

Samira então é chamada
Por suas grandes amigas
Para matar a xarada
E resolver uma intriga
Elas querem entender
Pra depois dar parecer
Sobre essa questão antiga

Para melhor entender
O caminhar da conversa
Em vez do nome dizer
A inicial é imersa
E ao longo de toda fala
Uma letrinha intercala
A opinião expressa:

T:
Cumade tu que entende
Das lei de nosso país
De tudo tu compreende
E cunhece na raiz
Exprique, por caridade
Cum toda sinceridade
O que o Ficha Limpa diz

F:
Nós desejamos saber
O que no rádio tá dando
É tanto teretetê
Na tevê tão comentando:
Ficha limpa, ficha suja
E nós com medo que surja
Um deles nos enganando

T:
Já preguntei para Joana
Zefa, Socorro e João
Gulora, Tica e Ana
Dedé e Sebastião
Eles também quer saber
Purisso peço a você
Resolva esta confusão

F:
Diga a nós de modo claro
Sem muito floreamento
Nem palavreado raro
Carregado de acento
Fale como num cordel
Tire de pressa esse véu
Faça um esclarecimento

S:
Vejam bem, nobres comadres
Não há nada complicado
Pra muitas autoridades
Isto é fato consumado
Pois a Lei Complementar
Veio pra moralizar
Protegendo o eleitorado

S:
Trata-se de um projeto
Que o povo mesmo criou
Um movimento correto
Que no Brasil se espalhou
Contra a corrupção
Que em toda eleição
A melhor sempre levou

S:
Por isto os cidadãos
Que honram nosso país
Pelas suas próprias mãos
Rascunharam a matriz
Desta lei tão importante
Que de agora em diante
Faz de nós todos juiz

S:
Foram um milhão e meio
Ou mais, de assinaturas
Pois a lei nasceu do seio
De quem estava à altura
De propor transformação
Pra esta grande nação
Pra deixá-la mais segura

T:
Apois então na verdade
O sentido dessa lei
Num vem duma faculdade
Nem dos código q'eu não sei
Vem da vontade das ruas
Da minha, dela e da tua
Conforme imaginei...

F:
É isso mesmo Toinha
Não é só doutor quem sabe
Tu não come com farinha
Discurso de autoridade
Inda mais nos nossos dias
Onde a democracia
Não tolera iniquidade

T:
Eu bem que desconfiei
Pois qual era o deputado
Que criaria uma lei
Para ele ser julgado?
E o povo ficar sabendo
O que eles andam fazendo
Com o voto dos desgraçado

F:
Mas deixe ela dizer
Um pouco mais para nós
Vamos nos esclarecer
Pra poder falar após
Quero ficar inteirada
Completamente informada
Para soltar minha voz

S:
Por esta lei o político
Vai ter que andar na linha
Sem usar de artificio
Como antes lhe convinha
Só pensando em se dar bem
Sem se importar com ninguém
Fazendo sua boquinha

F:
E agora o trapaceiro
Venal e espertalhão
Que se apossou do dinheiro
Do povo desta nação
Formando sua quadrilha
Nas eleições já não brilha
E nem merece perdão?

S:
Pois se já foi condenado
Por um grupo de juízes
Que declarou comprovado
Crimes de todos matizes
Contra a Constituição
Como poderá, então
Querer esconder deslizes?

S:
Se pela administração
Pública, não tem respeito
Se em cada eleição
Costuma fazer mal feito
Se praticou o racismo
Patrocinou escravismo
Como pode ser eleito?

S:
E se cometeu tortura
Sozinho ou em quadrilha
Se abusou da estrutura
Para si ou para a filha
Se droga financiou
Ou com ela se juntou
Na res pública não trilha

S:
Se não tem a Ficha Limpa
Por que daremos poder?
Se o eleitor garimpa
Quem poderá merecer
Seu voto de confiança
E também sua esperança
Pra ver o Brasil crescer

S:
Ter Ficha Limpa é preciso
Para se candidatar
É o primeiro aviso
Para a história mudar
Pois um país que se preza
Não dá poder a quem lesa
A Lei Maior do lugar

S:
Eis, então, minha comadre
O ''espírito da lei''
Aquele que nos invade
E faz do pobre um rei
Pois sua dignidade
É a principal qualidade
Que em sua ficha (a)notei

T:
Vixe Maria e é isto
Que o tal Ficha Limpa quer?
Que a gente passe um visto
E também meta a cuié?
Pra num tê mais um ladrão
No poder desta nação
Seja ele homi ou muié?

T:
Apois eu tô intendeno
Tudim que tu ixplicô
E parece q'eu tô vendo
A cara de meu avô
Quando dizia assim:
Cambada de gente ruim
Meu voto a vocês num dô!

S:
Exatamente, querida
É disto que estou falando
Quando a ficha é conhecida
Bandido não tem comando
Evita-se mensalão
E se faz a prevenção
Que abrevia o desmando

T:
Agora tem um pobrema
Que você num comentô
No meio dessa novena
Quem carrega o andô?
Pru quê nois vimo falá
Que já tem juiz que dá
Direito aos chei de cocô

T:
Pois mesmo sendo a lei boa
E vindo para arrumá
Tirá lama da lagoa
E o chêro de gambá
Eu tô vendo uns errado
Mesmo sendo condenado
Pedino pra nóis votá

T:
Dizem que tem uns juiz
Mais maió do que o zôto
Que deixa os disinfiliz
Darem pra lei um cotôco
Mangando da lei alvinha
Que depois de manchadinha
Nem mesmo sabão côco!

F:
Mas antes que tu responda
Eu começo a matutar
Sinto que essa lei já ronda
Pras bandas do Ceará
Aqui já tem um magote
Que antes passava trote
Querendo nos enganar

T:
Mei mundo de sugismundo
Emporcalhava o poder
Dava uns golpe tão profundo
Fazeno o povo perdê
Mas com fé no Padim Ciço
Os que não tem compromisso
Nunca mais vão se elegê

T:
Bom mesmo era se tudim
Num pente fino passasse
Os que pegaram um jatim
E foram sem nem disfarse
Passear pelas Oropa
Comprando pano de copa
Pra sogra, muié e crasse

F:
E os que encheram cuecas
Com dinheiro de montão?
Ou que pegaram molecas
Para prostituição?
Estes aí tão limpados?
Bonitos, engravatados
No vigor da eleição?

S:
Calma, calma minha gente
A coisa já tá mudando
A vitória do presente
Há muito vem se formando
Foi dado o primeiro passo
Compremos régua e compasso
E vamos tudo traçando

S:
Como eu disse, esta norma
Nasceu no meio do povo
Pouco a pouco ela forma
Uma visão para o novo
Muda o olhar do jurista
E nos faz crer na conquista
Tal qual o pinto no ovo

S:
Cada um de nós podemos
Dar a contribuição
Somos nós quem elegemos
Temos o poder nas mãos
Expurguemos fichas sujas
Sanguessugas e corujas
Predadores da nação

F:
É isso mesmo colega
To com você e não abro
É o povo quem delega
O poder ao deputado
Senador e presidente
E o Governador da gente
Tem que ser limpo e honrado

S:
E se assim a gente quer
Então juntos nós podemos
Que a Justiça dê fé
E todos nós celebremos
O futuro desta terra
Pode ser feito sem guerra
Contanto que opinemos

S, T, F:

O nosso S. T. F.
Formado por cidadãs
Que não conhece benesses
Nem teoria alemã
Entende que pro Brasil
O Ficha Limpa surgiu
Pra esperança não ser vã!

Fonte texto: Blog Cordelirando

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